O jornal El País e um exemplo de manipulação neocolonial

Análise crítica do discurso da máfia midiática espanhola sobre a vitória de Hugo Chávez.

Por Jair de Souza

É muito comum encontrar gente progressista que, ao falar sobre os meios de comunicação de seu país, consideram-nos os piores do mundo, afirmando que não há, e nem pode haver, outros tão sórdidos, tão manipuladores, tão parcializados, tão elitistas e antipovo, como os de seu país.

Aqui no Brasil, também nos deparamos com muita frequência com este tipo de opinião. Basta acompanhar por algum tempo a publicação de artigos e comentários em nossos blogs progressistas para constatar que a revista Veja, os órgãos da Rede Globo, a Folha de São Paulo, o Estadão, a Rede Bandeirantes , etc., são apresentados como o supra-sumo do que há de pior no jornalismo mundial.

Não há como negar, temos uma escória midiática de causar inveja. Mas, que tão pior seria ela em comparação com a máfia midiática argentina? Será que o grupo Clarín e seus mais de 400 meios se comportam na Argentina com mais ética e honestidade que os nossos? Difícil acreditar nisso quando analisamos o que fazem a toda hora na tentativa de impedir que o governo eleito pela maioria do povo possa conduzir o país sem estar submetido a seus ditames. E o povo equatoriano poderá aceitar que o grupo Universo e os demais meios de comunicação privados de lá são menos insidiosos e golpistas? E o povo boliviano, o povo chileno, o povo colombiano, etc.?

É claro que os venezuelanos vão se sentir injustiçados se os seus meios de comunicação privados não receberem o troféu maior da canalhice. Eles podem pedir que estudemos com afinco uma amostra do comportamento de sua máfia midiática. Vão sugerir que vejamos (ou revejamos) o papel de sua mídia no caso de Ponte Llaguno. Depois disso, eles esperam não ser mais preciso discutir para ficar com o troféu.

Na verdade, trata-se de um concurso difícil. Não vai ser fácil descobrir em qual de nossos países está a mídia mais nefasta. Ela está por todos os lados. É parte intrínseca do modelo de dominação oligárquica imposto a todas as sociedades latinoamericanas (com exceção de Cuba a partir de sua Revolução de 1959), principalmente com o advento da globalização neoliberal.

No entanto, nada mais equivocado do que crer que este fenômeno se limita à América Latina e aos demais países periféricos. Nada disso! Um comportamento similar é encontrado nos países de capitalismo hegemônico, na Europa ou na América do norte. A diferença mais importante, talvez, esteja no menor grau de resistência apresentado a isto pela intelectualidade dita progressista dos países centrais do capitalismo. Já sabemos que boa parte da outrora intelectualidade crítica de esquerda desses países acabou sendo assimilada pela ideologia do neoliberalismo e, consequentemente, deixou de questionar a essência do mesmo. Uma vez que os meios de comunicação privados passaram a exercer o papel de representante máximo do sistema no capitalismo neoliberal globalizante, pouco podemos esperar de uma intelectualidade que agora vive para servir a esse sistema. Logicamente, há honrosas exceções. Pascual Serrano e Ignacio Ramonet (entre outros) estão aí para deixar claro isto.

Feita esta introdução, gostaria de comentar um caso real de manipulação abjeta praticada por um órgão que, até há pouco, costumava gozar de grande credibilidade entre alguns intelectuais e jornalistas que, atualmente, se encontram em nosso chamado campo progressista. Refiro-me ao jornal El País, da Espanha. Lembro-me bem que PHA chegou a apresentá-lo como sendo o melhor do mundo. Claro que eu, que já conhecia há bom tempo o comportamento neocolonialista desse órgão portavoz do grupo máfio-midiático Prisa, e que já havia publicado artigo em Aporrea da Venezuela sobre suas manipulações descaradas, protestei. Mas parece que PHA não gostou muito naquele momento de minha observação, pois sequer publicou meu comentário (nem outros nos quais eu também fiz referência ao citado jornal).

Hoje, tão logo me informei da nova vitória eleitoral de Hugo Chávez, procurei saber o que estaria dizendo sobre a mesma o jornal El País, visto que, desde a chegada de Chávez ao governo, este jornal se tornou um de seus maiores críticos e verdadeiro satanizador de tudo o relacionado com ele. E lá estava o artigo que eu esperava com o sugestivo título: Chávez obtém um quarto mandato como presidente para ficar 20 anos no poder.

E já começa dizendo que “Golias derrotou David”. Claro que Chávez é o Golias, todo poderoso, e Capriles, o pequeno e frágil David que ousou enfrentá-lo. O fato de que todos os recursos imagináveis da oligarquia venezuelana, de toda a máfia midiática venezuelana, de todas as corporações máfio-midiáticas do mundo, dos países imperialistas e neocolonialistas e do sionismo israelense foram postos à disposição de Capriles, nada disso tiraria de Capriles sua condição de frágil “David”, diante do perverso “Golias”.

Daí, resignadamente, nosso glorioso órgão de imprensa “independente” diz que “Chávez disporá a partir de agora de um quarto mandato para aprofundar sua revolução bolivariana, ou socialismo do século XXI , e seu caudilhismo messiânico”. Dá para sentir o “carinho” especial que El País tem por Hugo Chávez..

Continua El País: “A folgada vitória de Chávez, a seus 58 anos, se produz apesar do fracasso de sua gestão e da incerteza de sua doença”. Ou seja, El País quer dizer que o povo venezuelano é totalmente idiota, pois Chávez faz uma gestão de governo fracassada e, mesmo assim, o povo volta a elegê-lo. Talvez, para El País e seus simpatizantes, o certo fosse acabar com as eleições na Venezuela e deixar que órgãos “neutros”, “independentes” e “conhecedores do certo e do errado”, como El País, escolhessem quem deveria assumir o governo. Com isso, evitaríamos que alguém fracassasse no governo (e Chávez vem fracassando há quase 14 anos) e voltasse a ser eleito.

E para deixar claro  o fracasso de Chávez, El País explicou: “E em sua recorrida pelo país, Chávez se deparou em mais de uma ocasião com um povo farto de violência nas ruas, de cortes do serviço elétrico, de promessas não cumpridas e de proclamas ideológicas planetárias”. Ou seja, Chávez se encontrou com um povo que já estava com o saco cheio dele, que já não o aguentava mais e, curiosamente, por tudo isso, resolveu votar nele novamente. Como vemos tudo dentro da lógica, clara e cristalina, que só um órgão tão “competente”, “neutro” e “independente” como El País poderia produzir.

Mas, para deixar ainda mais patente os absurdos que Chávez já cometeu, El País nos informou que “Chávez também não deixou de recordar as conquistas de seus 14 anos de mandato – redução do analfabetismo, extensão da atenção sanitária básica, aumento do número de universitários, mercados populares, etc., – utilizando sem escrúpulos os recursos do Estado e fazendo isto até o último minuto…”. Bem, aí está! Isto sim que é um dos maiores absurdos. Chávez teve a desfaçatez de usar recursos públicos para acabar com o analfabetismo, para estender o atendimento sanitários aos mais necessitados, oferecer mais vagas nas universidades aos mais obres, criar centros de distribuição de alimentos a baixo custo… É,… realmente não dá para tolerar um cara como Hugo Chávez. Ele ainda não entendeu que o prioritário a fazer com os recursos públicos é facilitar a chegada de whisky escocês, construir campos de golfe para a elite, subsidiar os banqueiros e a oligarquia, e tantas outras coisas “dignas”.

Depois de ler esta pequena amostra de como funciona um dos mais “conceituados” jornais da elite espanhola (e de muitos nativos da periferia dotados do espírito de vira-latas), talvez venhamos a ser um pouco mais condescendente com a nossa própria máfia midiática. Ela é lixo puro, é verdade, mas as máfias midiáticas de outros países também o são. E, para orgulho de todos, estamos equiparados até mesmo às máfias midiáticas dos países europeus.

http://desacato.info/2012/10/o-jornal-el-pais-e-um-exemplo-de-manipulacao-neocolonial/

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