Victor Viana
No dia 8 de setembro, seis amigos de infância pretendiam tomar banho de cachoeira no Parque de Gericinó, área abandonada pelo exército, no bairro da Chatuba, em Mesquita. Os jovens, que tinham entre 16 e 19 anos, moravam no Cabral, em Nilópolis, saíram de um festival de pipas e foram rumo à cachoeira. Não voltariam. Sem notícias, as famílias passaram aflitas o fim de semana. Só na segunda-feira, 10, pela manhã, souberam que os jovens haviam sido assassinados.
Os corpos dos seis jovens foram encontrados próximos a uma obra, na Rodovia Presidente Dutra, com características de que tinham sido brutalmente torturados antes da morte. Com tiros na cabeça, estavam nus e enrolados em plásticos.
A chacina deu origem a uma série de especulações. “Morreram porque eram bandidos, por que foram confundidos com bandidos, por represália dos traficantes às UPPs, descaso com a baixada?” Nada que justificasse a atrocidade cometida no bairro da Chatuba, chamado agora de favela em várias das notícias sobre o ocorrido (será que pensam que diferença entre bairro e favela é dada pelo grau de violência?). Tamanha foi a gravidade da situação, que a Polícia Militar instalou uma companhia destacada, com mais de 100 PMs, e ocupou a região.
Para a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro (Seseg-RJ), a medida é eficaz. Segundo a assessoria de imprensa da secretaria “A ocupação das comunidades significa a retomada, pelo poder público, de territórios até então dominados por traficantes. Essa medida é fundamental para liberar os moradores dessas comunidades do poder do tráfico e para permitir a chegada de novos serviços e perspectivas para essa população”.
O que nem sempre é considerado sinônimo de respeito aos direitos da população. “Nunca houve um incidente como esse. Geralmente, as mortes das quais tenho conhecimento são de confrontos entre a polícia e traficantes”, conta a estudante, Fernanda Carvalho, moradora da Chatuba. Fernanda acredita que a falta de investimento na baixada, por não ser uma área com pontos turísticos e um local de concentração de classes populares, contribui para as múltiplas violações sofridas historicamente na região.“Eu acho que o policiamento deveria ser mais intenso, com menos corrupção. Deveria também haver a implantação de áreas de lazer e centros culturais”.
Fernanda acha que se não fosse esse lastimável episódio, a situação na Baixada — e principalmente a de Mesquita — continuaria esquecida. Já a Seseg, garante que Unidades de Polícia Pacificadora já estavam nos planejamentos para a área.
Hipótese da migração de criminosos
Outra hipótese bastante recorrente a respeito do crime na Chatuba foi sobre uma possível migração de traficantes das favelas pacificadas do Rio para a Baixada, o que teria intensificado a insegurança no local. Quando perguntada sobre isto, a assessoria da Secretaria de Segurança respondeu: “A Secretaria de Segurança não tem indicativos ou informações que comprovem que um grande número de criminosos foragidos de áreas pacificadas tenha se instalado em outras regiões da cidade”.
Uma pesquisa também reforça a hipótese de que não houve migração. No início do ano, a PM realizou, a pedido da Seseg, um levantamento sobre a origem dos presos em flagrante na área do 12º Batalhão da Polícia Militar, de Niterói, para averiguar possíveis indícios de migração de criminosos do Rio para aquela cidade. O levantamento mostrou que no período de 30 de setembro de 2011 até 6 de março de 2012, houve 658 prisões em flagrante na área do 12º BPM. Desse total, apenas 34 criminosos eram oriundos do município do Rio, ou seja, 5,2%. Do total da amostra, 82,1% eram oriundos de Niterói, São Gonçalo e Maricá e os demais vieram de outras cidades do Estado do Rio e até de outros estados (SP, MA e SC).
Clima tenso
Para Tiago Dionísio, morador há 25 anos da Chatuba e professor de geografia em dois colégios estaduais de Mesquita, o sentimento é de muita revolta. Ele acredita na hipótese de que traficantes vindos da cidade do Rio tenham ocupado a região. Tiago diz que a Chatuba é um lugar tranquilo, mas que há dois anos o cenário mudou. “Acredito que a violência chegou junto com os traficantes que fugiram das favelas pacificadas”. O professor também conta que o policiamento é algo que falta no bairro de mesquita e que, desde o que afirma ter sido a chegada de novos traficantes, tem ocorrido tiroteios durante a madruga entre facções inimigas.
O professor diz que depois da chacina se instalou um clima tenso na região. “O pior período foi durante a ocupação da PM. As aulas foram suspensas, o comércio foi fechado e o bairro ficava deserto durante a madrugada”.
Tiago fica triste em ver o ponto em que chegou a situação na Chatuba. “Ir a cachoeira era algo comum, muita gente frequentava. Depois do atentado e a ocupação da PM, é inevitável não sentir medo. Os moradores ficam no meio disso tudo, sem saber o que fazer”, finaliza.
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