A canadense Belo Sun, que pretende implantar “o maior projeto de exploração de ouro do Brasil” na região de Volta Grande do Xingu, mesmo local onde está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte, decidiu fazer uma proposta de parceria à Norte Energia, consórcio responsável pela usina.
Em entrevista ao Valor, o vice-presidente de exploração da Belo Sun no Brasil, Hélio Diniz, disse que irá propor à Norte Energia a possibilidade de as duas empresas dividirem o investimento necessário para construir a linha de transmissão de energia que ligará as turbinas da hidrelétrica até a cidade de Altamira, no Pará. “Faremos essa proposta. Precisamos discutir as sinergias dos dois projetos, seus custos e impactos ambientais”, comentou Diniz. “Nós precisamos de energia para a mineração. Então, por que fazer duas linhas? Podemos compartilhar essa instalação. Nossa preocupação nem diz respeito ao investimento, mas à possibilidade de reduzir o impacto ambiental.”
A reportagem é de André Borges e publicada pelo jornal Valor, 24-09-2012.
Hélio Diniz, que fica baseado em Minas Gerais, disse que hoje estará em Brasília para uma reunião no Ministério de Minas e Energia (MME). O objetivo, segundo ele, é fazer esclarecimentos sobre o empreendimento que a companhia pretende instalar no município de Senador José Porfírio, a 14 km de distância da barragem de Belo Monte. Com o apoio do MME, disse Diniz, a Belo Sun quer “estabelecer um diálogo” com os donos de Belo Monte. “Já fizemos vários contatos com a Norte Energia, mas só com os técnicos locais. Espero que consigamos um contato mais direto e oficial. Precisamos discutir as sinergias dos dois projetos.”
O plano canadense de mineração teria surpreendido a diretoria da Norte Energia que, segundo interlocutores do consócio, só foi saber do projeto de extração de ouro após reclamações de ribeirinhos que vivem na região de Volta Grande, sobre ameaças de terem de deixar suas casas por conta do empreendimento de mineração. O fato é que o projeto foi mal recebido pela Norte Energia, que enxerga apenas mais uma polêmica para enfrentar enquanto toca a construção da hidrelétrica.
Reportagem do Valor da semana passada revelou detalhes do plano canadense. A Belo Sun, que pertence ao grupo Forbes & Manhattan, banco de capital fechado que desenvolve projetos internacionais de mineração, pretende investir US$ 1,076 bilhão na extração e beneficiamento de ouro. A produção média prevista para a planta de beneficiamento, segundo o relatório de impacto ambiental da Belo Sun, é de 4.684 quilos de ouro por ano, o que significa um faturamento anual de aproximadamente R$ 538,6 milhões.
O processo de licenciamento ambiental da mina é tocado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará, mas a autorização de lavra ainda depende do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), autarquia federal vinculada ao MME. Na semana passada, conforme adiantou o Valor, o Ministério Público Federal (MPF) em Altamira encontrou inconsistências no projeto e informou que iria pedir esclarecimentos à empresa e ao governo.
A notícia de “investigação” do MPF fez com que os acionistas da Belo Sun, que tem capital aberto na Bolsa de Toronto, decidissem suspender um aporte de US$ 50 milhões previsto para bancar a próxima etapa do empreendimento. Segundo Hélio Diniz, a companhia optou por essa decisão “por conta do nervosismo” que tomou conta do mercado. “Essa ideia de investigação foi mal interpretada pelo mercado. Todos entenderam que se tratava de alguma irregularidade, por isso a proposta foi retirada. Depois, explicamos que se trata apenas de pedido de informação do Ministério Público”, comentou. Segundo o executivo, a operação financeira foi retomada e deverá ser concluída em 30 dias.
Entre os esclarecimentos que os canadenses terão de fornecer está o impacto que o projeto trará para comunidades indígenas da região. Primeiro, Hélio Diniz disse que o relatório de impacto ambiental não mencionava os índios porque estes não seriam atingidos pela mineração. Depois, ele deu nova versão. “Dei uma informação errada. O estudo completo de fato avalia o impacto aos índios, além da sinergia com a usina”, disse.
Segundo Diniz, a Belo Sun apresentou um requerimento à Fundação Nacional do Índio (Funai) em fevereiro para ter acesso às aldeias e, a partir daí, fazer seus levantamentos. “O problema é que até hoje não recebemos resposta. Temos tentado falar com a Funai, mas não conseguimos.”
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