A história se repete

No dia 1º de setembro, ocorreu na Nova Holanda, no Conjunto de Favelas da Maré, uma operação policial que resultou na morte de dois jovens. A ação da PM também teve como “saldo” o arrombamento da casa de uma senhora de 65 anos, de onde foram roubados cerca de R$ 1.500,00 em dinheiro (a quantia seria usada para custear uma operação de catarata).

Os homicídios e o roubo aconteceram quando representantes de organizações e lideranças comunitárias se preparavam, no local, para a “Conferência Livre do Plano de Direitos Humanos da Maré”. Os participantes do encontro, que foi interrompido logo no início, colheram relatos de moradores e foram à 21º Delegacia (Bonsucesso) para registrar queixa.

Situações como estas, decorrentes de operações autorizadas pelo Estado, nas quais seus agentes roubam e matam nas favelas, se repetem há décadas. Neste tempo, familiares e amigos de vítimas denunciaram a brutalidade do Estado, organizações de direitos humanos fizeram relatórios, universidades produziram pesquisas, gente sensível e indignada fez passeatas e imagens de mães em prantos se repetiram. Décadas e a sociedade e o Estado continuam insensíveis. “É inadmissível que a vida de um jovem do Leblon tenha mais valor do que a vida de um jovem da Maré”, disse Eliana Souza e Silva, diretora da Redes da Maré e articuladora do Plano de Direitos Humanos, presente durante os acontecimentos.

Quando dizem que se o mesmo acontecesse em um bairro de classe média, a reação das autoridades e da opinião pública seria diferente, o que se quer afirmar é que a vida das pessoas vale pelo grau de inserção delas no mundo do consumo. O discurso de que a chamada classe C consome mais, nem de longe vem abalar este argumento. Afinal, a desigualdade e a distância (não necessariamente geográfica) permanecem.  Estas distâncias impedem o reconhecimento do valor da vida de moradores de favelas e, ao mesmo tempo, se expressam na desvalorização simbólica dos territórios alvos das tais operações. O que está diretamente relacionado à depreciação histórica das práticas e da existência destes locais.

Hoje, além de dizer que é inaceitável, além de exigir uma política de segurança que respeite os direitos humanos, além de lamentar, diremos que precisamos de estratégias de valorização da vida que incluam, cada vez mais, a necessidade de reconhecimento da contribuição histórica das favelas para a formação da identidade da cidade. Pois a violência simbólica e a física são lados da mesma moeda.

http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=1237

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