Ex-empregado de empresa do ramo de fibrocimento em Osasco (SP) e vítima da exposição ao amianto, Doracy Maggion, co-fundador da Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (ABREA) naquela cidade, fez, nesta sexta-feira (31), um apelo para que o Supremo Tribunal Federal (STF) ajude a banir o uso desse produto no País.
“O senhor, que é um homem forte, eu gostaria que pudesse ajudar a banir essa fibra – eu não tenho mais jeito –, para que as futuras gerações não venham a sofrer o que eu estou sofrendo”, afirmou Maggion, dirigindo-se ao ministro Marco Aurélio, que presidia os trabalhos da audiência pública convocada por ele próprio para debater o uso do amianto no país.
O ministro é relator de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3937, ajuizada em 2007 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), questionando a Lei 12.648/2007, do Estado de São Paulo, que proíbe o uso em território paulista de produtos, materiais ou artefatos que contenham qualquer tipo de amianto ou asbesto ou outros minerais que tenham fibras de amianto na sua composição.
Falecimentos
Em sua exposição, Doracy Maggion disse que muitos dos colegas que trabalharam com ele na mesma indústria já faleceram, vítimas de câncer. Entre outros, ele citou Donizete Gomes de Oliveria, que trabalhou em indústria de amianto em Jacareí (SP), que “morreu de doença relacionada ao amianto”.
Ao falar de outro caso, de José Roncadini, disse que ele se orgulhava de trabalhar na indústria onde atuava. Entretanto, “teve um cardápio completo da doença”, que se inicou com placas pleurais, depois, mesotelioma, câncer provocado pelo amianto, na maioria dos casos. “Foi esse o prêmio que recebeu por tantos anos de deciação”, afirmou.
Outro caso foi o de Aldo Vicentini, seu advogado, que trabalhou quatro anos no almoxarifado da mesma empresa em Osasco, antes de se tornar advogado. “Nunca tinha sido diagnosticado. De repente, o pulmão se encheu de líquido. Houve derrame de pleura e o diagnóstico fatal: mesotelioma de pleura. Em quatro meses, ele morreu”, relatou Maggion. E isso, segundo ele, ocorreu justamente no mês em que foi editada a lei paulista de banimento do amianto. “Ao sair do Incor, nunca mais voltou para casa”, relatou.
Ele se emocionou ao falar do “companheiro Walmir”, de Osasco, também falecido de doença provocada por amianto. “Ele trocou muitas confidências, tristezas e alegrias comigo”, disse. “Fundou a ABREA. Achava que era uma loucura lutar contra o poderio” da empresa, recordou.
“No meio do caminho, poucos restaram para continuar a luta, de Davi contra Golias”, afirmou. Ele lembrou ainda o caso de Silvano Dias Barros, falecido por mesotelioma, aos 25 anos de idade, que descobriu que estava com câncer quando trabalhava em outra empresa do ramo, em Jacareí. “Ele lutava contra a ABREA, até receber o diangóstico e morrer rapidamente”, recordou.
Vítimas
Doracy Maggion disse que as perguntas mais frequentes que ele e a ABREA ouvem é sobre onde estão as vítimas do amianto e quantas são. “Em vários cemitérios”, respondeu ele, citando o caso de Bom Jesus da Serra, uma pequena cidade no interior da Bahia, onde se encontra a primeira mina de amianto no país, que tem quatro cemitérios.
“Quando falaram com sobreviventes dessa catástrofe anunciada (a mina baiana), ouvimos: ‘Tínhamos uma paisagem europeia, pois nevava no sertão”, relatou, referindo-se à poeira provocada pelas fibras de amianto. “Os túmulos são feitos com telhas de amianto”, arrematou.
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=216878