Mais de 3,2 mil famílias indígenas de Dourados estão sem receber cesta básica há quase 3 meses, segundo a comunidade. Os maiores prejudicados são as crianças que já enfrentam risco nutricional.
De acordo com o capitão da Aldeia Bororó, César Isnard, tanto as cestas da Fundação Nacional do Índio (Funai) quanto as do Governo do estado estariam com a distribuição atrasadas.
Por causa disso, a maioria das famílias está vivendo apenas do que conseguiu plantar. “Muitos só tem mandioca para comer. Agora no frio, os pais têm dificuldades até para sair a vender o produto, tendo em vista a falta de agasalhos. Nossa comunidade está em crise”, destaca.
A indígena Vilma Leite Almirão diz que para ter o que comer vende mandioca em Dourados. “O problema é que preciso vender 60 quilos de mandioca para conseguir um total de R$ 30. Com este valor tenho que comprar arroz, feijão, uma mistura e sabão. Estou tendo que vender toda a minha produção e as galinhas para conseguir o mínimo de alimentos”, lamenta, observando que tem 6 filhos menores para cuidar. A guarani Roseli Lopes está em situação ainda mais precária. Ela não tem o que vender porque na área onde mora não teria vingado a produção de mandioca. “Eu trabalho de lavar roupa, passar e limpar em troca de alguns alimentos para os meus filhos. Tenho medo que eles fiquem doentes porque em muitas vezes não temos nada para cozinhar”, destaca. Ela tem cinco filhos pequenos e o marido está desempregado.
Conforme a agente de saúde Priscila Macieol Duarte Lopes, a última cesta recebida do Estado foi em junho deste ano, assim como a cesta da Fundação Nacional do Índio (Funai). Neste período, segundo ela, cerca de 10 crianças tiveram redução no peso e estão com risco nutricional. A agente diz que num momento em que a Saúde Indígena passa por tantos problemas como a falta de insumos e medicamentos, o corte nas cestas básicas agrava ainda mais a qualidade de vida do índio, que hoje vive em situação de miséria. “Muitas crianças estão com diarréia e os adultos estão apresentando infartos que estão levando à morte. O meu pai é exemplo disso. Morreu por falta de atendimento adequado. No posto de Saúde não havia remédio para pressão alta e atrelado a falta do mínimo que é uma alimentação adequada, não resistiu”, destaca.
Segundo ela, a comunidade está recorrendo ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras/Indígena) em casos extremos. “Muitas famílias que não conseguiram plantar por falta de espaço ou clima estão passando fome. A única alternativa vem sendo o auxílio da Assistência Social”.
FUNAI
A Funai em Dourados explica que a distribuição de cestas foi interrompida em todo o país. De acordo com o indigenista Gustavo Guerreiro Moreira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que compra os alimentos para distribuir às famílias em risco alimentar, alega falta de repasses de recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Há informações, segundo a Funai, que outros órgãos como o Incra também estão sofrendo com o corte de cestas em todo o país. A Funai em Dourados atende 6.017 famílias no total. Elas estão concentradas nas cidades de Bataguassu, Caarapó, Douradina, Dourados, Bela Vista, Jardim, Guia Lopes da laguna, Juti, Maracajú, Naviraí e Rio Brilhante.
De acordo com Gustavo, durante a falta de repasses, a Funai em Dourados ainda garantiu uma cota extra de cestas que foram distribuídas nos acampamentos indígenas, onde o risco alimentar é maior. Estes alimentos foram distribuídos em julho e agosto. A previsão repassada à Funai é que em outubro estas cestas voltam a ser distribuídas normalmente.
Estado
A Secretaria de Assistência Social do Estado informou ao O PROGRESSO que a distribuição de cestas básicas nas reservas do Estado estão seguindo cronograma normal e que não há atraso. O diretor geral da Secretaria, Álvaro Ávila, explica que a cesta do mês de agosto começou a ser distribuida no dia 15, na região da Grande Dourados e deve ser encerrada no próximo dia 31, com a distribuição para todas as famílias. Para Dourados, está prevista a entrega de 2.726 cestas. O intervalo entre uma entrega e outra dura 40 dias, segundo a Secretaria.
Providências
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Fernando de Souza, se reúne hoje com membros da Funai, Estado, entre outras entidades para discutir meios de resolver o problema. Os índios pedem ajuda à sociedade para receber alimentos. Os não perecíveis podem ser entregues na sede do jornal O PROGRESSO, na Avenida Presidente Vargas 447, em frente a Praça Antônio João.
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http://www.fatimanews.com.br/noticias/sem-cesta-basica-ha-tres-meses-indigenas-passam-fome-em-dourados_137770/