Índios montam aldeias em rodovias federais de Mato Grosso

Fartos estoques de mantimento. Mais de 3.000 litros de água mineral. Caminhões, camionetes e carros de passeio de prontidão. Dezenas de barracas de camping e redes de dormir. Equipes atuando em turnos nas funções de segurança, limpeza e cozinha.

Organizados de maneira inédita, os índios de seis etnias que bloquearam a BR-364 (na saída para Rondonópolis, junto à ponte do rio Aricá) nunca estiveram tão preparados para cumprir a ameaça de manter um protesto “por tempo indeterminado”. “Aqui nós vamos permanecer até quando tiver o último grão de arroz e a última raiz de mandioca. E vai demorar até isto ocorrer”, afirmou o líder paresi Genílson Kezomae.

O protesto ocorre nos mesmos moldes na BR-174 (nas proximidades de Comodoro) e exige a revogação da portaria 303, editada pela AGU (Advocacia Geral da União). A portaria, que reproduz o parecer do STF (Supremo Tribunal Federal) durante o julgamento do caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, trata do veto à ampliação de terras demarcadas e ainda prevê a revisão de processos já conclusos de demarcação.

Publicada em 16 de julho, a norma foi suspensa por 60 dias após a repercussão negativa entre as entidades representativas e lideranças indígenas. “É uma portaria que fere nos nossos direitos e ainda abre a possibilidade de redução nas terras indígenas. O governo quer tirar nossos direitos”, criticou Kezomae.

Segundo ele, a AGU extrapolou suas funções. “Permitir que a AGU possa fazer leis e diretrizes, é uma aberração. Isso é prerrogativa do Congresso Nacional. O papel de AGU é pegar a lei vigente e trabalhar.”

Até o final da tarde de ontem, o bloqueio na BR-364 já havia gerado uma fila de caminhões de mais de 25 quilômetros apenas no sentido Cuiabá-Rondonópolis. No início da manhã, os índios concordaram em liberar o tráfego nos dois sentidos da rodovia por uma hora.

“Recebemos a informação de que havia várias crianças presas no bloqueio, então resolvemos liberar. O nosso objetivo não é maltratar o caminhoneiro e os outros usuários, mas foi o governo Federal que impediu qualquer diálogo”, disse.

Caminhoneiros parados na fila mantinham a esperança de um novo desbloqueio, ainda que parcial. O paresi Arnaldo Zunizakae, 40, disse apenas que a possibilidade seria discutida em assembleia na noite de ontem. “A princípio, não haverá novo desbloqueio e o nosso conselho é que não venham para cá apostando nisso”, avisou.

Segundo ele, o protesto é o mais organizado já feito em conjunto pelas etnias de Mato Grosso. “Isso é um sinal claro de que as coisas estão mudando. Os indígenas estão se mobilizando, e não apenas em Mato Grosso, mas em todo o Brasil.”

O líder manifestou descontentamento com os 10 anos de gestão petista da questão indígena. “Quantas áreas foram demarcadas depois que o PT chegou ao governo? Somente Raposa Serra do Sol, e debaixo de muita pressão.”

http://www.odocumento.com.br/materia.php?id=403950

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.