Povos do Mar criam carta de direitos


Evento contou com a participação de 20 municípios, representados por 86 comunidades FOTO: JL ROSA

Na declaração, os participantes apontam soluções para fortalecer atividades e reafirmar a cultura local

Fernando Brito

“Os nossos modos de vida vêm sendo constantemente ameaçados por projetos e processos que negam a nossa existência e dificultam o acesso aos recursos públicos, privatizam nossos territórios, degradam o meio ambiente e comprometem a nossa soberania alimentar e nossa liberdade”. A avaliação consta na Declaração de Iparana, documento conclusivo do 2º Encontro Povos do Mar, encerrado, ontem, na Colônia Ecológica Sesc Iparana.

Realizado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc-CE), o evento contou com a participação de 20 municípios cearenses, representados por 86 comunidades, e objetivou dar visibilidade e valorizar as comunidades tradicionais de pescadores, artesãos, quilombolas e etnias indígenas do litoral cearense.

Na Declaração de Iparana, os participantes do encontro apontam soluções para fortalecer as atividades tradicionais e reafirmar a cultura dos povos do mar. Uma delas é que o direito aos territórios e às manifestações e modos de vida dos povos indígenas, quilombolas e comunidades pesqueiras seja respeitado para a reprodução das culturas e dos modos de vida locais.

Condições

O documento também propõe a criação de unidades de conservação, que incluam manguezais, dunas, rios e mares, apontados como a garantia da soberania alimentar e da existência dos povos do mar. Ainda na declaração, os participantes do evento defenderam a adoção de políticas públicas direcionadas para melhorar as condições de trabalho dos pescadores, pescadoras artesanais, marisqueiras e artesãos e convidaram a sociedade a apoiar os povos do mar.

Contando com o apoio da TV Verdes Mares, o 2º Encontro Povos do Mar teve cinco dias de duração. Durante o evento, foram realizadas atividades voltadas às práticas alimentares e de saúde popular e à socialização das técnicas de artesanato, bem como cursos, danças, brincadeiras e discussões sobre o meio ambiente e a sustentabilidade, através de oficinas, vivências, rodas de conversa e, ainda, círculos de cultura.

Aberto à comunidade, o encontro contou com espaços e tendas temáticas, onde ocorreram apresentações, exposições e vendas de artesanato e comidas das comunidades litorâneas.

Um dos destaques da programação foi o lançamento do documentário Sesc Cocos de Beira-Mar. De autoria de Henrique Dídimo, o trabalho faz um mapeamento das expressões culturais e traz dinâmicas sociais das brincadeiras comunitárias e patrimônios das danças populares.

Paulo Leitão, gerente de Cultura do Sesc- Ceará, destacou a diversidade cultural presente no encontro e a chance de construir igualdades a partir das diferenças. Ele também realçou a força e a importância da “cearensidade” e a oportunidade de as comunidades litorâneas mostrarem e harmonizarem culturas, além de apresentar demandas.

Falta de políticas reduz o número de pescadores

Entre as principais questões discutidas durante o 2º Encontro Povos do Mar, que teve início na semana passada, estava a pesca predatória, assim como a falta de políticas públicas destinadas a comunidades litorâneas.

Conforme dados da Colônia de Pescadores Z-8, tanto essa falta de investimentos por parte do poder público nas comunidades, como essa pesca predatória são responsáveis pela redução de 33,3% do número de pescadores artesanais nos últimos 12 anos no Ceará.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1174718

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