BH – Ocorrências de estupro têm elevação de 77% na capital

Sofrimento. Aos 16 anos, a adolescente A. foi vítima de um estupro; de janeiro a junho deste ano, foram 46 ocorrências na capital

Equipe cruza os dados de casos nos bairros para tentar identificar autores

Luciene Câmara

Casos recorrentes de estupros em Belo Horizonte colocaram em alerta a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). De janeiro a junho deste ano, 46 ocorrências foram registradas na unidade. O número é 77% maior que os índices do mesmo período do ano passado quando houve 26 notificações. O crescimento dos casos faz aumentar a suspeita sobre a atuação de estupradores em série, em casos semelhantes ao descoberto neste ano com a prisão do ex-bancário Pedro Meyer, 57, suspeito de atacar pelo menos 16 adolescentes na década de 90.

Somando as ocorrências registradas em todas as delegacias da capital, o número de estupros é ainda maior. O último balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) mostra que houve 405 registros do crime em 2011 na cidade, uma média de 1,1 caso por dia. O índice de 2010 era ainda maior, com 482 denúncias. Em todo o Estado, a Seds contabilizou 1.770 ocorrências em 2011, uma média de 4,8 casos diários.

A delegada Margareth Freitas Assis Rocha, chefe da Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência de Belo Horizonte (Demid), ligada à Deam, informou que, em função do aumento de ocorrências, uma equipe com quatro investigadores foi designada recentemente para apurar especificamente os crimes sexuais. “Queremos entender o que está acontecendo”, disse.

De antemão, a delegada observa uma alta incidência de casos envolvendo os mesmos estupradores. Para isso, a equipe especializada está cruzando dados de ocorrências nos mesmos bairros para identificar os autores em série. “Será um trabalho demorado, de inteligência, mas assim conseguiremos rastrear mais rápido quem são os agressores”, completou.

A delegada disse que há também situações de presos condenados por estupro que conseguem benefícios de liberdade e voltam a praticar os crimes. “Com base nos dados fornecidos pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), vamos monitorar os detentos”.

O advogado criminalista Adilson Rocha, presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), explicou que, embora o estupro seja considerado um crime hediondo, com alto grau de reprovação por parte da sociedade, o preso, se for réu primário, pode ser condenado a responder pelo crime em semiliberdade e ter o direito ainda a cinco saídas por ano da cadeia. “Prender apenas não funciona. O que precisa haver é tratamento para o detento na cadeia”, concluiu Rocha.

Vítima não consegue reconstruir a rotina

Entre as 405 vítimas de estupro que registraram queixa na capital no ano passado, está a atendente I.O.S, 26. Em outubro passado ela foi abordada por um homem na rua, às 5h, enquanto aguardava o ônibus para seguir para o trabalho. Durante a agressão, o estuprador a ameaçou diversas vezes e disse ainda que tinha Aids e, por isso, queria compartilhar a doença com as vítimas.

I.O.S passou uma semana trancada em casa após o fato, acompanhada do filho de 4 anos, que não entendia o motivo do sofrimento. “Eu tinha pavor até de atender o telefone”. Aos poucos, ela tomou coragem de sair de casa e procurou um centro de saúde, mas fugia na hora dos exames. “Meu medo era ser atendida por um homem”.

Quando, enfim, fez os testes, I.O.S descobriu uma gravidez de mais de um mês e nenhuma doença. “Consegui tirar o feto pelo SUS e fiz também denúncia na polícia. Mas perdi o emprego pelas faltas ao trabalho e ainda vivo com medo”.

Lésbicas também sofrem com o chamado “estupro corretivo”

O Núcleo de Atendimento e Cidadania LGBT (NAC) da Polícia Civil, que atende a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e funciona ao lado da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), também vem registrando alto índice de estupros contra mulheres homoafetivas. “São os chamados estupros ‘corretivos’, como se o homem quisesse mudar a orientação sexual da mulher”, afirmou a coordenador do núcleo, Ellen Carvalho.

Pelo menos sete casos foram registrados no primeiro semestre deste ano no local, conforme levantamento informal do órgão. “Para um núcleo que ainda é pouco divulgado, o número de procura impressiona”, declarou Ellen.

O coordenador do Centro Risoleta Neves de Atendimento (Cerna), Diego Garzon Henrique, disse que as vítimas chegam ao local em situação de extrema fragilidade. “Elas perdem a confiança na sociedade, na Justiça e nas relações”.

Em muitos casos, segundo ele, o crime vem de um histórico de agressão doméstica. O Cerna presta atendimento jurídico, psicológico e social às mulheres e fica na rua Pernambuco, 1.000, na Savassi, na região Centro-Sul.

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=209324,OTE

Enviada por José Carlos.

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