PF conclui fase de investigação sobre morte de cacique e indicia 23 suspeitos em MS

Entre os indiciados, está um funcionário da Funai

A Polícia Federal (PF) de Ponta Porã, cidade distante a 346 quilômetros de Campo Grande, concluiu nesta semana a segunda fase das investigações do inquérito policial que apura a morte do líder indígena Nízio Gomes. Ao todo, foram 23 pessoas indiciadas, sendo que 18 delas foram presas provisoriamente acusadas de homicídio qualificado.

Os indiciados também são acusados pelos crimes de ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de testemunhas. Entre os suspeitos, está um funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai), que pode ser condenado pelos crimes de formação de quadrilha e coação no curso do processo, já que tentou coagir uma importante testemunha a mudar seu depoimento na polícia.

Dentre os presos, 10 são ligados a uma empresa de segurança privada da cidade de Dourados, incluindo o proprietário e gerentes. Um dos detidos é um advogado residente no Paraná, e outros seis fazendeiros da região de Ponta Porã e Aral Moreira, cidade onde está localizado o acampamento indígena Guayviry, do qual Nísio era cacique. Um destes fazendeiros é presidente de um Sindicato Rural no Estado de Mato Grosso do Sul.

O 18º preso teria sido solto, segundo informações preliminares da Polícia Federal. Ele ainda não foi identificado.

Após a conclusão, o inquérito policial foi novamente encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF).

Os fazendeiros e o advogado estão presos na Delegacia de Polícia Federal de Ponta Porã, e poderão ser removidos ainda hoje (20) para Estabelecimentos Prisionais do Estado.

Conclusões sobre a morte

Novas provas colhidas pela PF apontam que, efetivamente, o cacique Nízio Gomes foi morto no acampamento no dia 18 de novembro do ano passado, e que seu corpo teria sido levado do local em uma caminhonete. Os executores do ataque são pessoas vinculadas à empresa de segurança privada de Dourados.

Uma das pessoas presas confessou em interrogatório que teve participação na retirada do corpo do local do ataque, tendo inclusive verificado o seu pulso e constatado a morte do índio. O cacique foi atingido por um disparo na região subaxilar.

O local onde se encontra o corpo ainda está sob investigação na PF. De acordo com o andamento das investigações, alguns dos fazendeiros presos sabem exatamente onde ele estaria escondido, mas nenhum deles demonstrou interesse em colaborar com as investigações e prestar informações sobre a localização.

A negativa em revelar o local seria um dos principais motivos que justificam o prolongamento das prisões. Os fazendeiros negam qualquer envolvimento com os crimes, mesmo entrando em contradição com outras provas produzidas.

A dificuldade nas buscas pelo corpo é grande, pois há muitas áreas não habitadas na região de fronteira com o Paraguai, onde ocorreu o homicídio.

Estratégias usadas pelos indiciados

Após a morte de Nízio, alguns dos fazendeiros indiciados tentaram usar de estratégias para dificultar o trabalho da polícia, chegando a contratarem um indígena de outra aldeia para fingir que estava ajudando nas investigações, mas na verdade, ele estava passando informações que induziam os policiais ao erro.

O indígena foi orientado a dizer para a Polícia Federal que o cacique Nísio estava vivo e morando com familiares em uma aldeia no Paraguai.

A situação foi revertida e os policiais conseguiram fazer o indígena confessar que o líder indígena estava de fato morto e que ele havia sido contratado pelos fazendeiros para tentar enganar a polícia. O envolvido revelou que, em troca, os fazendeiros prometeram a ele uma grande quantia em dinheiro – uma parte pequena foi paga – além da contratação de um advogado, caso fosse necessário, e ainda fizeram a promessa de que iriam elegê-lo vereador nestas eleições.

Antes do ataque ao acampamento, o mesmo indígena havia sido contratado pelos fazendeiros para tentar negociar com o cacique a saída do seu grupo em troca do pagamento de uma grande quantia em dinheiro, mas como o cacique não aceitou, os fazendeiros resolveram contratar a empresa de segurança privada para realizar o ataque.

As armas utilizadas no homicídio, espingardas calibre 12, foram fornecidas pelos fazendeiros.

http://www.msrecord.com.br/noticia/ver/78608/pf-conclui-fase-de-investigacao-sobre-morte-de-cacique-e-indicia-23-suspeitos-em-ms

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