Candidatos apostam na militância negra e social na busca de voto

Regina Bochicchio

Com o anúncio oficial da vereadora comunista Olívia Santana na vaga de vice na chapa do candidato petista Nelson Pelegrino, nesta sexta, 29, após a retirada da candidatura da deputada federal Alice Portugal (PCdoB), os três principais nomes à sucessão desse ano em Salvador têm como parceiros de chapa pessoas negras, o que deixa claro que as candidaturas estão de olho, também, nos votos dessa população e no eleitorado que cada um desses nomes agrega, de formas distintas.

Além de Olívia, “a negona de Salvador”, que sobe no palanque ao lado de Pelegrino, neste sábado, 30, na convenção do PT, que acontece no Bahia Café Hall, entraram no jogo eleitoral a militante negra Célia Sacramento (PV) com ACM Neto (DEM) e o jovem da periferia Nestor Neto com Mário Kertész – chapa esta oficializada em convenção nesta sexta. Isso sem falar nos candidatos do PRB, Bispo Marcio Marinho, e Hamilton Assis (PSOL), também negros, mas com origens políticas muito diferentes.

A escolha de vices negros é visto como “feliz coincidência”, pelo deputado federal Daniel Almeida (PCdoB). Fato é que o vice tem função pragmática na chapa: a de agregar valor e atrair votos. Em caso de vitória, o partido do vice divide espaço no poder.

Trata-se de coincidência ou estratégia política? “Em parte é coincidência, em parte estratégia”, analisa o professor de ciências políticas da UFBA, Joviniano Neto. “Em termos gerais há uma estratégia de se aproximar de forma simplista o eleitorado do pobre, cuja maior parte é negro”, diz o professor. Entretanto, “cada negro que sai a vice tem uma trajetória diferente” e uma especificidade em cada candidatura. “Não dá para dizer que é tudo uma coisa só”, diz.

Articulação – O caso do DEM, que saiu na frente na escolha de uma militante negra, Célia Sacramento, para vice de Neto, a parceria pode funcionar como “complemento ou vacina”, diz Joviano: a imagem do DEM pode ser associada ao partido que entrou na Justiça contra as cotas raciais, por exemplo. Célia, figura respeitada, pode aproximar a população negra da candidatura. Soma-se o fato de ser mulher. A reportagem não conseguiu, nesta sexta, falar com o presidente do Democratas baiano, José Carlos Aleluia.

O caso do PT é diferente. A candidata preferida era Alice, que não quis a vice na chapa e não é negra. O movimento orquestrado pelo governador Jaques Wagner (PT) fez os candidatos da base desistirem, menos Alice, que ficou isolada, tornando inviável a manutenção de sua candidatura. “Para mim é sem dúvida motivo de lamento, mas a conjuntura política não é só a arte do desejo, mas a arte do possível”, disse a deputada.

Porque Olívia? “Tem uma grande trajetória, é mulher como eu e ainda agrega a questão étnica, anti-racista, ligada à cultura e educação. Militante social”, afirmou. Para Daniel Almeida, “ela é a cara da cidade”. Junte a isso 9,6 mil votos em 2008 e outros 9,9 mil nas eleições de 2010 para deputada federal.

Questionada, Olívia, que corre o risco de ficar sem mandato em 2013 caso a vitória não seja do PT, disse que em política sempre há riscos e dá a dica: “a união de forças de parceiros históricos é para o projeto maior”. De fato, a parceria unifica a articulação, para militância, com movimentos social e sindical, ligados ao PT e PCdoB.

Já a candidatura do PMDB pode ser a que mais chega perto da estratégia de querer  aproximar do eleitor o negro pobre: “Ele (Nestor) não tem militância negra, mas é atuante e pode complementar a candidatura de Kertész”, diz Joviniano Neto.

Mas segundo o presidente estadual do PMDB, Lucio Vieira Lima, o que moveu a escolha do vice Nestor Neto foi “o talento de um jovem que mostra intenção de renovar a política baiana”. E completa: “Ele é nascido e criado na periferia, é líder comunitário, tem sangue jovem para unir à experiência de Mário”.

Quem é quem:

Nestor Neto (PMDB) – Nestor Neto começou a vida política no movimento estudantil, chegando a presidir a Grêmio Estudantil do Colégio Central e a Associação Baiana Estudantil Secundarista (Abes). Liderança na “Revolta do Buzu”, em 2003, Neto filiou-se ao PMDB no mesmo ano. Aos 31 anos, administrador de empresas, possui experiência nas urnas, adquirida em 2004, 2006 e há quatro anos, quando obteve mais de 6 mil votos. Em 2010, preferiu participar da campanha de Geddel Vieira Lima ao governo do Estado.

Olívia Santana (PCdoB) – Nasceu em Salvador no dia 25 de março de 1967, na comunidade do Alto de Ondina, filha de empregada doméstica e pai marceneiro. Sua mãe teve oito filhos, mas só sobreviveram três: ela e mais dois. Está no terceiro mandato do Legislativo municipal. Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Olívia começou na política com o movimento estudantil, em destaque na luta contra a discriminação racial. É dirigente da Unegro e eleita ouvidora-geral da Câmara (2011-2012).

Célia Sacramento (PV) – Célia Sacramento é professora universitária e militante pela igualdade racial. Candidatou-se a deputada federal em 2010 e teve 7.674 votos, não sendo eleita. Filiada ao PV de Salvador, Célia Sacramento tem como referência, além da sua atuação no movimento negro, o seu discurso de esquerda e a sua forte inserção nos movimentos sociais da capital baiana. Célia Sacramento, 44 anos, nasceu em São Paulo, mas foi criada no Subúrbio Ferroviário de Salvador, tendo estudado em escolas da rede pública.

http://atarde.uol.com.br/eleicoes2012/noticia.jsf?id=5850145&t=Candidatos+apostam+na+militancia+negra+e+social+na+busca+de+voto

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