Semana da Antropologia – A dimensão humana dos desafios nacionais e mundiais invade São Paulo

Pela primeira vez no país será realizada a Semana da Antropologia com atividades em salas de cinema, museus e universidade, parte delas gratuitas. A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), que há três décadas não realizava sua reunião em São Paulo, agora escolheu a cidade, um espaço urbano sem igual, para compartilhar e divulgar para um público amplo a antropologia que se faz no Brasil e suas múltiplas intersecções com outras áreas de conhecimento. Em parceria com várias instituições, haverá três mostras de filmes e vídeos, entre eles os premiados documentários australianos, um seminário no Masp para dialogar com os museus e um debate internacional sobre deslocamentos, desigualdades e direitos humanos. Estas atividades ocorrem em conexão com a 28ª Reunião Brasileira de Antropologia, que deverá contar com mais de três mil estudiosos, brasileiros e estrangeiros, a ser realizada na PUC, região central da cidade e de fácil acesso ao público.

“Estamos contribuindo cada vez mais para a formulação de políticas públicas e propostas para a sociedade. Entretanto, confrontamos ainda o desafio de organizar e afirmar criticamente nossa produção intelectual com o intuito de expor a dimensão humana da ciência, da tecnologia e da inovação, inclusive no que concerne ao tipo de desenvolvimento que queremos para o Brasil”, diz Bela Feldman-Bianco, presidente da ABA e de sua 28ª Reunião. “Uma dimensão importante desse desafio implica a necessidade de divulgarmos a nossa produção antropológica para audiências mais amplas e é isto que estamos tentando fazer com essa Semana da Antropologia na cidade de São Paulo”. Confira abaixo a programação:

27/6 e 28/6 – Mostra de filmes aborígines australianos no MIS com debate

Retrospectiva dos mundialmente premiados Samson & Delilah, Nana e Greenbush, produzidos pelo diretor aborígine Warwick Thornton. Após a exibição haverá debate com o antropólogo e cineasta francês Marc Piault, diretor  honorário de pesquisa do CNRS (instituição francesa que corresponde ao CNPq). O jovem diretor aborígine Martu Curtis Taylor também estará presente. Serão exibidos alguns de seus documentários e trabalhos dramáticos e ele falará sobre a importância do desenvolvimento tecnológico para a produção áudio-visual aborígine. A curadora da mostra, Lisa Stefanoff, professora da University of South Australia, apresentará os filmes ainda pouco conhecidos do público brasileiro.

29/6 a 1/7 – A antropologia vai aos museus. Os museus vão à antropologia

Realizado no Auditório do Masp e em parceria com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o seminário tem como objetivo examinar criticamente as contribuições do conhecimento antropológico para a formação e produção de acervos de memória. Um dos destaques é a conferência (29/6, às 20h) de Roberto da Matta intitulada “A antropologia como arte de ver o mundo”. Serão debatidas as novas tecnologias, o novo museu, e até mesmo o Museu Afrodigital.

30/6 – Islã: identidades e subjetividades

Realizado na Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes (BibliASPA), serão abordados temas como Os árabes nas nações e nas academias: mútuas colonizações, Pesquisadores de Islã no Brasil – interfaces e construção do conhecimento.

30/6 e 1/7 – Estudos Antropológicos sobre Sexualidade: tendências, intersecções e fronteiras

Este workshop, a ser realizado na PUC, tem como objetivo produzir um mapa das tendências e principais linhas de força que vêm constituindo o campo dos estudos antropológicos sobre sexualidade no Brasil. Desde a Constituição de 1988, vêm se expandindo no país uma legislação e uma jurisprudência contra diversas formas de discriminação, possibilitando o acesso das chamadas “minorias” à justiça e, particularmente, aos direitos sociais. O discurso jurídico vem se transformando não somente através da incorporação de novas definições, mas igualmente de novos recursos e personagens, em um quadro que ganhou especial impulso desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Um dos pontos altos deste processo foi, por exemplo, a mobilização em torno do decreto presidencial de novembro de 2007, pelo qual o Presidente Luis Inácio Lula da Silva convocou a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que ocorreu em junho de 2008, em Brasília.

1/7 e 2/7 – II Encontro Nacional sobre a Sócio-antropologia do Uso de Psicoativos

A ser realizado na PUC, o encontro pretende criar um foro para uma discussão mais aprofundada da questão da droga e de como ela se apresenta na sociedade contemporânea. Alguns temas de debates são Proibicionismo e o enfrentamento ao crack e Drogas e Legislação.

2/7 a 5/7 – 28º REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA

Com o tema “Desafios Antropológicos Contemporâneos”, a reunião a ser realizada na PUC, tem uma extensa programação científica. São 36 mesas-redondas, 69 grupos de trabalho, 13 fóruns, 16 simpósios, oito exposições de fotos, hipermídia e etnografia sonora, cinco mostras de vídeo, quatro mini-cursos, três conversas com o autor, três oficinas e três performances cênicas. Há, ainda, duas conferências: Práticas antropológicas no tempo da recodificação, por Alfredo Wagner (UAM/UFAM), sobre as dificuldades para a pesquisa antropológica criadas por políticas de regulação das relações contratuais; e History as it is lived: an anthropological pespective on autonomy, contingency and historical necessity, a ser proferida por Christina Toren, da University of St Andrews, Reino Unido.

2/7 a 8/7 – Mostra Múltiplos Brasis

Em parceria com a Secretaria Municipal de Cultural, serão exibidos no Cinusp, Galeria Olido, Instituto Itaú Cultural e Matilha Cultural filmes com cinco eixos temáticos: Cidades, Personagens, Fronteiras, Performance e Outros Brasis. São todos filmes selecionados e/ou premiados em festivais e alguns deles foram feitos por antropólogos. A ideia central é colocar o grande público em contato com temas que preocupam tanto cineastas quanto antropólogos.

3/7 – Mostra de Filmes e Vídeos Documentários e Etnográficos sobre Futebol

Com a proximidade da realização da Copa do Mundo 2014, a mostra a ser realizada no Museu do Futebol propõe uma reflexão sobre as dimensões socioculturais do fenômeno futebolístico. São sete títulos, dois documentários e cinco vídeos etnográficos, divididos em quatro sessões temáticas, abordando as múltiplas e intensas emoções dos torcedores de futebol, as relações entre futebol e identidade nacional, o futebol de várzea, chegando até a Amazônia e trazendo ao público às práticas futebolísticas entre os indígenas. A proposta é sensibilizar o grande público para outras imagens (e sentidos) acerca do futebol para além das tradicionalmente produzidas e veiculadas, bem como proporcionar o acesso a produções audiovisuais que não participam dos grandes circuitos comerciais. Ao final das exibições, haverá um debate.

6/7 e 7/7 – Seminário internacional “Deslocamentos, Desigualdades e Direitos Humanos”

Com a participação de professores brasileiros e do exterior, como Áustria, Argentina, Equador, México, Espanha e Estados Unidos, o seminário a ser realizado na PUC examina e discute, através de perspectivas comparativas, deslocamentos (espaciais, temporais, de gênero, classe, raça) a partir de vários ângulos – seja migração transnacional, refúgio político e ambiental, tráfico de seres humanos,  deslocamentos políticos internos, retorno, remoções urbanas e de populações tradicionais – como parte de processos similares, na atual conjuntura do capitalismo global. Subjacente a essa temática estão questões centrais relacionadas às políticas desenvolvimentistas e/ou neoliberais em voga e que são objeto do recém-criado Fórum sobre Desenvolvimento da ABA, bem como à tentativa de estimular a prática de diálogos críticos globais.

Enviada por Henyo – IEB para  a lista superiorindigena.

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