Egon Heck: Cansados de esperar, lideranças Guarani Kaiowá desembarcam em Brasília para reivindicar demarcação de terras

Egon Heck*

Missionário do Cimi

Foram inúmeras as promessas do governo federal quanto à demarcação de terras tradicionais dos Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Passou pela assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do Ministério Público Federal (MPF) com a Fundação Nacional do Índio (Funai), em 2008, até o assassinato e desaparecimento do corpo do cacique Nísio Gomes, do tekoha Guaiviry, no município de Aral Moreira, em novembro de 2011. Com a repercussão do ataque sofrido, o governo federal deu prazo de 90 dias para dar andamento ao processo administrativo de demarcação das terras indígenas.

No entanto, até agora nenhum relatório de identificação ou de demarcação foi publicado pelo Ministério da Justiça. Com a paciência esgotada, 16 lideranças Guarani Kaiowá desembarcaram em Brasília, nesta quarta-feira, 16. Nhanderu Getulio inicia com reza e ritual, em Guarani, o encontro da delegação do Conselho da Aty Guasu – e representantes de áreas de conflito – com a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marta Azevedo, e equipe da Funai – regionais do Cone Sul e de Brasília.

Talvez seja a primeira vez na história em que uma delegação houve a presidente do órgão indigenista do governo se comunicar com eles na sua língua materna, o Guarani. Acreditam que esse fato possa e deva se converter em compromisso mais profundo da Funai com a luta pelos seus direitos, à vida e especialmente às terras tradicionais.

Nesta quinta-feira os representantes de comunidades de 14 terras indígenas vão definir estratégias para diminuir a extrema violência a que estão submetidos, tendo a garantia constitucional de seus territórios assegurados. Depois das terras indígenas Raposa Serra do Sol (RR) e Caramuru-Catarina Paraguassu (BA), acreditam que é a vez dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, em especial os Kaiowá Guarani e Terena, terem suas terras identificadas, demarcadas e com a completa retirada dos invasores.

Nos depoimentos iniciais, os Guarani Kaiowá deixaram bem claro: já esgotaram novamente o prazo de 60 dias definidos na Aty Guasu de Jaguapiré em fevereiro de 2012. “Todos os prazos para a publicação dos relatórios de identificação já se esgotaram”, dizem as lideranças. Com isso, também a paciência se esgotou. Só lhes resta a própria mobilização pelas suas terras, com apoio da sociedade e dos órgãos que tem a obrigação constitucional de demarcar e proteger seus territórios.

“Queremos levar resultados; queremos saber quando a demarcação vai sair. Não temos onde plantar. Se nos matarem, nossos filhos chegarão às nossas terras. Com a força de Deus Nhanderu, vamos vencer”, enfatizam. “Sinto a falta do cheiro da flor, do cheiro do fruto e do cheiro da casca de pau. O único cheiro que sentimos hoje é o do veneno”, diz Getúlio Guarani Kaiowá.

Também está anunciada para esta quinta-feira, 17, em Brasília, a presença do governador do Mato Grosso do Sul, que juntamente com parlamentares e assessores, estará em audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedindo urgência nos conflitos envolvendo os povos indígenas e o agronegócio.

Os representantes das terras indígenas e áreas de conflito são de Dourados(Jaguapiru e Bororó), Yvy Katu ( Porto Lindo) , Ypoi, Potrero Guasu, Guayviri, Sukuriý, Kurusu Ambá, Guirá Kambi’y (Lagoa Rica) , Laranjeira Nhanderu, Nhanderu Marangatu, Takuara, Pyolito Kuê, Jaguapiré e Arroio Korá.

“Viemos em um comitê com mais de 16 pessoas direto do Mato Grosso do Sul para exigir do governo demarcação de nossas terras e expulsão dos fazendeiros que as estão invadindo, pois estamos morando na beira da estrada, caso o governo não demarque nossas terras, nós mesmos as demarcaremos. Solicitamos também uma audiência pública com o Supremo Tribunal Federal (STF) para denunciar os assassinatos contra nosso povo”, afirma Eliseu Lopes, da comunidade Kurusu Ambá.

A Funai foi procurada, mas até a publicação desta matéria não respondeu às perguntas enviadas sobre o andamento dos processos de demarcação das terras indígenas Guarani kaiowá.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do Cimi

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