CE – ‘Proprietários’ de terreno ameaçam moradores no Serviluz

A disputa pelo terreno conhecido como “Campo do Paulista”, de aproximadamente 1 hectare, tem motivado a ação de capangas e policiais contra moradores, a mando de supostos proprietários. No próximo sábado (21/4), às 8h30min, vai ser realizado um ato público para denunciar o caso

Desde 26 de março, os moradores do Serviluz têm vivido novos dias de tensão, após diferentes conflitos que ocorreram nos últimos três anos. Dessa vez, a comunidade, que exerce a posse sobre a área do Campo do Paulista há mais de 50 anos, está tendo este direito violado sem qualquer amparo legal, já que não houve nenhuma ordem judicial de reintegração.

Para protestar contra o “roubo” do terreno, os moradores do Serviluz realizam ato público no próximo sábado (21/4), a partir das 8h30min, na Av. Zezé Diogo, s/n, em frente ao Campo do Paulista. Além de denunciar a invasão e as ameaças, os manifestantes vão promover um abraço ao campo e realizar um torneio beneficente de futebol.

Além de invadir ilegalmente o terreno, os posseiros têm intimidado, com ameaças físicas e abusos de autoridade de policiais militares, os moradores que questionam a intervenção, inclusive o presidente da Liga de Futebol do Serviluz.  Homens com tratores, acompanhados por capangas e policiais, derrubaram as arquibancadas, que foram construídas em 1988 pelos moradores. De acordo com as lideranças comunitárias, os invasores também já começaram a cercar campo. Em 2005, outro grupo, a serviço de um alegado “proprietário”, derrubou as árvores que sombreavam a área.

Esse é mais um fato que expõe os conflitos urbanos que têm afetado a região. Antes, a comunidade enfrentou a reação de especuladores imobiliários à ocupação Raízes da Praia, em 2009, e a tentativa de construção de um estaleiro, em 2010 – nos casos, respectivamente, a comunidade organizada pelo Movimento dos Conselhos Populares (MCP) se efetivou, e o empreendimento proposto pelo Governo do Estado foi abortado.

Terreno da União, direito da comunidade

Todo o bairro do Serviluz está localizado em área de domínio da União, o que veta, do ponto de vista legal, a possibilidade de haver “proprietários” de terra. Os próprios moradores são posseiros, cujo direito é regularizado por uma “concessão de uso para moradia”, processo de regularização fundiária que foi iniciado em 2005. Além disso, o bairro é definido pelo Plano Diretor de Fortaleza, aprovado em 2008, como Zona Especial de Interesse Social (Zeis), o que condiciona o terreno a cumprir a função social de área de lazer e de convívio da comunidade.

O terreno existe desde 1960, fincado na principal avenida (Zezé Diogo), bem no coração do Serviluz, por onde passam todos os segmentos da comunidade. O Campo do Paulista sempre foi mantido pelos próprios moradores, que se responsabilizam por deixá-lo sempre em situação de uso, elevando o espaço a um dos principais equipamentos de esporte e lazer do bairro, dos poucos que há. Os jogadores dos times e os organizadores da Liga de Futebol do Serviluz são os principais mantenedores do campo.

Tradição

O primeiro time organizado no bairro foi o “Paulista Esporte Clube”, que acabou batizando o campo. O mais antigo em atividade é “Londrina”, que existe desde 1974. A Liga de Futebol do Serviluz, que reúne os times e organiza torneios – às vezes, em parceria com Governo e Prefeitura –, foi fundada em 1990 e conta atualmente com 16 equipes.

Além dos times, as crianças, jovens, mulheres, idosos e a comunidade, de forma mais ampla, desfrutam do espaço, seja para a prática de esportes, seja para a convivência social.

Serviço

Ato público no próximo sábado (21/4), às 8h30min, no “Campo do Paulista” (Av. Zezé Diogo, s/n, Serviluz) para denunciar a invasão do terreno e as ameaças a moradores.

Enviada por Daniel Fônseca.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.