Migração de arrozeiro leva conflito ao Pará

Expulso da reserva indígena Raposa/Serra do Sol (RR) em 2009, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o fazendeiro e deputado federal Paulo César Quartiero (DEM-RR) levou o cultivo de arroz para a ilha de Marajó, no Pará, onde enfrenta agora resistência de moradores.

A reportagem é de Aguirre Talento e Felipe Luchete e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 07-04-2012.

Pescadores, quilombolas, ribeirinhos e trabalhadores rurais temem que a cultura, feita com agrotóxicos e captação de grandes volumes de água, prejudique o ambiente.

Quartiero, 59, introduziu a rizicultura em larga escala no Marajó – região tradicionalmente focada na pesca, pecuária e extrativismo.

Por R$ 4 milhões, ele comprou, em 2010, uma área de 12 mil hectares (equivalente a quase duas vezes a Osasco) no município de Cachoeira do Arari. O filho Renato Quartiero, 27, comanda o negócio.

Após a chegada deles, outros arrozeiros se interessaram pela região. São apoiados pelo prefeito Jaime Barbosa (PMDB), que quer alavancar a economia.

A produção intensificou-se na fazenda dos Quartiero neste ano, e atritos começaram a vir à tona. Um deles é sobre os limites de sua propriedade. As cercas da fazenda foram fincadas dentro de um pequeno rio, afetando a passagem de pescadores.

O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) diz que a área, por ser zona de rio, é da União. A propriedade ocupa as margens da estrada que chega a Cachoeira do Arari. Até o cemitério está dentro da fazenda.

No plantio, de agosto a outubro, aviões sobrevoam a área para aplicar agrotóxicos, assustando moradores.

A Agência de Defesa Agropecuária do Estado, porém, fez uma fiscalização em outubro e não encontrou problemas no uso dos defensivos. Nova visita deve avaliar a qualidade das águas.

Os pescadores afirmam ser os mais afetados. Eles são cerca de 6.000 dos 20 mil moradores. Luiz Augusto Martins, 30, reclama. “Neste ano, os peixes não estão aparecendo.” A agência diz que não constatou isso na fiscalização.

Seus colegas se queixam de serem impedidos de pescar perto da fazenda. Os comerciantes, porém, estão satisfeitos. O arroz “Acostumado”, dos Quartiero, é o mais barato e o mais vendido nos mercados locais.

Quartiero diz que ajuda economia de ‘região esquecida’

O deputado federal Paulo César Quartiero (DEM) só saiu da terra indígena em Roraima, em 2009, após ser expulso pela Polícia Federal. Como a PF não tinha mandado judicial, foi preciso que um juiz federal escrevesse o documento à mão para que Quartiero saísse.

O deputado, que ainda não havia sido eleito, tentou transferir a produção para a Guiana, sem sucesso, e acabou na ilha de Marajó por indicação de um conhecido.

Segundo ele, a maioria dos moradores aprova a atuação, por acreditar desenvolve uma “região esquecida”.

“Sempre tem a turma do contra, organizada por partidos e movimentos com mentalidades marxistas, que fazem o mesmo carnaval.”

Ele diz que todos os produtos usados são adequados. Sobre as cercas fincadas no rio, o filho Renato afirma que foram colocadas para evitar roubo de gado e que permite que moradores pesquem em lagos da fazenda.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508249-migracaodearrozeirolevaconflitoaopara

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