De volta ao futuro

por Luiz Arnaldo Campos, coordenador de comunicação da Cúpula dos Povos

Neste primeiro semestre de 2012, os movimentos sociais da América Latina vão se confrontar com os governantes do planeta em três oportunidades: a Cúpula das Américas, em Cartagena (Colômbia); a reunião do G20, na cidade de Los Cabos (México); e a Conferência da ONU, a Rio+20 (Rio de Janeiro). Em cada uma dessas ocasiões, os movimentos se verão diante de desafios que dizem respeito ao passado, presente e o futuro do continente e do planeta. Serão três momentos importantes para determinar o agora e o amanhã planetário.

A Cúpula das Américas recende a mofo. Criada por Bush Filho, com o objetivo de lançar a finada ALCA, teve sua primeira edição, não por acaso, em Miami, e desta vez, não menos simbolicamente, se realizará na Colômbia, o mais fiel aliado dos EUA no continente e abrigo de bases militares norte-americanas. Essa Confêrencia, com a presença do próprio Barack Obama, faz parte do esforço diplomático de Washington em recuperar uma hegemonia no seu antigo quintal, debilitada por diversos fatores  entre os quais a crescente importância econômica da China na região e o fracasso dos governantes neoliberais, derrotados nas urnas por forças que, pelo menos em palavras, são críticas ao caminho preconizado há décadas pela tríade Banco Mundial, FMI e OMC.

Nos últimos anos, os EUA foram marginalizados de uma série de instâncias criadas pelos países latino-americanos, como a Unasul e o Banco do Sul. Agora – através dessa Cúpula das Américas buscam recuperar o tempo e o espaço perdidos. Apesar da imagem jovial de Obama, o cheiro de naftalina é inevitável, como demonstra a exclusão de Cuba da reunião, recordando os tempos tenebrosos do ‘combate ao comunismo’, pródigo em ditaduras militares e em seus cortejos de horrores. Por isso mesmo a agenda dos movimentos sociais durante a Cúpula contempla uma série de manifestações centrada na denúncia da militarização da região, da violência e dos abusos contra os direitos humanos. Da Colômbia, que vive ainda um tempo obscuro já superado por boa parte dos países da América Latina, virá o brado contra um passado que não quer passar.

No México, a reunião dos G20 representa a atualidade da dominação, disfarçada por nomes como ‘governança global’. Inicialmente, G7 (EUA, Inglaterra, Alemanha, Itália, França, Japão e Canadá), mais tarde G7+1 e G-8 (com a inclusão da Rússia), o grupo se ampliou com a entrada dos chamados países emergentes, como forma de ‘democratizar’ a gestão do planeta. Onde quer que aconteçam as reuniões do G20, são perseguidas por manifestações que negam a esses governantes o direito de decidir a sorte da humanidade. Dessa vez, no México, não será diferente. Desde a capital mexicana até a Baixa Califórnia, estado onde será realizada a reunião, marchas, caravanas e grandes comícios denunciarão os responsáveis pela crise generalizada – economica, social, política, ambiental que afeta o planeta e as falsas alternativas que promovem mais do mesmo. Ou seja, buscam intensificar  a dominação do capital  por meio da medicina amarga que, como exemplo, está sendo imposta na Grécia demissões, corte de direitos sociais, recessão econômica e salvação dos bancos e governos, responsáveis diretos pela crise.

Quase ao mesmo tempo em que a reunião do G20 será realizada no Brasil, acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20)  que tem como estrela anunciada a ‘economia verde’. Proposta apresentada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD ) como uma espécie de panaceia contra todas as crises, a economia verde significa, na prática, o aprofundamento da mercantilização da natureza, com a precificação e privatização dos bens comuns, além da constituição de novos mercados – como o do carbono – e a aposta no aprofundamento do capitalismo como remédio da crise da civilização criada pelo próprio capital.

Em paralelo ao encontro dos chefes de estado, movimentos sociais de todo mundo promoverão a Cúpula dos Povos – que tem como eixo a denúncia dos aspectos estruturais da crise, a crítica das falsas soluções e a apresentação de propostas alternativas. Neste último ponto reside sua ligação com o amanhã. Pela primeira vez desde que os povos começaram a marchar em Seattle, um encontro dessa natureza e dessa magnitude (se esperam dezenas de milhares de participantes, vindos dos quatro continentes) propõe não só denunciar passado e presente, mas também apresentar as propostas consensuais para o futuro, uma espécie de plataforma dos 99% contra o programa dos 1% que dirigem o mundo em seu próprio proveito.

Partindo dos acúmulos reunidos em décadas de luta social e sistematizados em encontros, fóruns, assembleias e redes, os protagonistas da Cúpula dos Povos na Rio+20 se propõem a  atravessar o Rubicão entre problemas e soluções, estabelecendo novos paradigmas para a vida em sociedade no planeta.  Trata-se de um objetivo generoso e corajoso. Vale a pena participar.

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