Comitê Xingu Vivo faz protesto contra censura da SNDH durante Seminário

O Comitê Xingu Vivo, responsável por articular diversas ações contrárias à construção de Belo Monte no Rio Xingu – em Altamira PA, fez manifestação pacífica durante a abertura do “Seminário Crianças e Adolescentes na Amazônia: Identidades Culturais e Territorialidades – Aniversário da Escola de Conselhos do Pará”, que ocorreu na manhã de ontem (20/03), no auditório do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ).

Munidos de faixas, cartazes de protestos e máscaras alusivas aos interessados em construir a obra, tomamos a frente do auditório durante a fala de Marcelo Nascimento (Secretaria de Direitos Humanos – SDH, órgão do governo federal), que estava a representar a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Republica, Maria do Rosário.

“Tentaram impedir nossa manifestação verbal, porém, após solicitar ao público, que interviu a nosso favor, os organizadores sentiram-se pressionados e deixaram eu e Rafael Correto, quebrando o protocolo, nos pronunciar frente à plateia” – afirma Anderson Castro, membro do Comitê Xingu Vivo.

Rafael mostrou sua indignação e denunciou a atitude autoritária da Ministra Maria do Rosário, ocorrida no dia 19 de março (ontem), que cerceou, durante a reunião da Comissão de Direitos Humanos em Brasília, a fala da sociedade civil que iria denunciar as inúmeras violações aos direitos humanos que já vem ocorrendo com a construção de Belo Monte em Altamira.

Abaixo segue a carta que foi lida na íntegra pelo jovem Anderson Castro, dessa vez sem cerceio à liberdade de expressão, “águas para a vida e não para a morte”:

NOTA PÚBLICA

19 de março de 2012

Criado em 16 de março de 1964 – apenas duas semanas antes do golpe militar que instaurou o regime de exceção no país – o  Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) é dos órgãos colegiados mais antigos da República e de fundamental relevância para a promoção e defesa dos direitos humanos no Brasil.

Na última semana, a valorosa história de autonomia e independência deste Conselho foi gravemente maculada.

Como é de conhecimento público, há quase um ano, este Conselho instituiu – através da Resolução n.3, de 24 de maio de 2011 – uma Comissão Especial para apurar denúncias de violações dos direitos humanos, “com o objetivo de levantar dados e informações pertinentes sobre os casos de violência no campo e sugerir providências junto às autoridades responsáveis” na região da Terra do Meio, no Pará.

Pela primeira vez na história deste Conselho, diante da injustificada morosidade da Presidente do CDDPH em apresentar o relatório da Comissão Especial para apreciação, o Ministério Público Federal expediu uma requisição formal para que, no prazo de 10 dias, o documento fosse apresentado e que fossem explicitados os motivos da demora na apreciação do mesmo.

Não bastasse isso, de acordo com notícias veiculadas pela Agência Brasil (Empresa Brasileira de Comunicação) – e que não foram em nenhum momento desmentidas pela Secretaria de Direitos Humanos – a ministra Maria do Rosário Nunes pediu ao Relator da Comissão Terra do Meio que modificasse o teor do seu relatório e que não abordasse as denúncias de violações de direitos humanos decorrentes da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Segundo o próprio representante do Ministério Público Federal, a ministra pediu que fosse retirado qualquer menção sobre Belo Monte do relatório.

A não apresentação do documento para apreciação deste Conselho e o pedido de reformulação do parecer do Relator constituem evidentes e gravíssimos atos de ingerência e arbitrariedade praticados pela mais alta autoridade de direitos humanos do Poder Executivo federal contra a autonomia e a independência do CDDPH.

Tornamos público nosso repúdio por esta ameaça de censura. O princípio da imparcialidade deve ser a tônica da atuação da Presidência do CDDPH, que não pode de forma alguma privilegiar os interesses do atual governo – bem como dos demais grupos privados que participam da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte – em detrimento do direito à informação e à transparência e em total desrespeito aos homens e mulheres que vem sendo violentados com a execução deste mega-projeto.

No último ano, por exemplo, a violência sexual contra crianças e adolescentes aumentou mais de 130% na região de Altamira. Há um expressivo aumento da mortalidade infantil e os casos de malária vem se acentuando.

A instância máxima de direitos humanos do país deve atuar para promover e proteger os direitos humanos de todos os cidadãos e comunidades  e não para esconder as graves violações de direitos humanos, arbitrariedades e impactos ambientais que um projeto como o de Belo Monte vem acarretando. Em respeito a este Honorável Conselho, a atual ministra da Secretaria de Direitos Humanos e presidente em exercício do CDDPH deve explicações à toda sociedade brasileira.

O CDDPH não pode se omitir nem compactuar com a arbitrariedade e com a violação ao direito à transparência e â informação. Muito menos pode  deixar de ouvir as vozes de milhares de brasileiros que têm sido atingidos e sofrido graves violações de direitos humanos em decorrência da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DOS POVOS DO XINGU

EM RESPEITO À HISTÓRIA DE AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DO CDDPH

PELO DIREITO À INFORMAÇÃO, À VERDADE E À JUSTIÇA

Subscrevem: 

  • Juntos! Juventude em luta
  • Associação Indígena Tembé de Santa Maria do Pará (AITESAMPA)
  • Comissão Pastora da Terra (CPT/PA)
  • Comitê Dorothy
  • Companhia Papo Show
  • Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
  • Central Sindical e Popular CONLUTAS
  • Diretório Central dos Estudantes da UFPA
  • Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes (APACC)
  • Diretório Central dos Estudantes da UNAMA
  • Instituto Universidade Popular (UNIPOP)
  • Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (FMAP)
  • Fundação Tocaia (FunTocaia)
  • Conselho Indigenista Missionário Regional Norte II (CIMI)
  • Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
  • TÔ! Coletivo – Coletivo de Juventude
  • Fórum Social Pan-amazônico (FSPA)
  • Associação dos Empregados do Banco da Amazônia (AEBA)
  • Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (IAMAS)
  • Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade do Estado do Pará (MMCC-PA)
  • Movimento Luta de Classes (MLC)
  • Associação Sindical Unidos Pra Lutar
  • Mana-Maní Círculo Aberto de Comunicação, Educação e Cultura
  • Movimento Hip-Hop da Floresta (MHF/NRP)
  • Instituto Amazônico de Planejamento, Gestão Urbana e Ambiental (IAGUA)
  • Diretório Central dos Estudantes da UEPA
  • Partido Comunista Revolucionário (PCR)
  • Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH)
  • Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal do Pará (SINTSEP/PA)
  • Movimento Estudantil Vamos à Luta
  • Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN)
  • Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU)
  • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Gestão Ambiental do Estado do Pará (SINDIAMBIENTAL)
  • Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Ananindeua e Marituba (SINTRAM)
  • Vegetarianos em Movimento (VEM)
  • Assembléia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL)
  • Associação dos Concursados do Pará (ASCONPA)
  • Pastorais Sociais Ampliadas da Diocese de Marabá
  • Associação Indígena Te Mempapytarkate Akrãtikatêjê da Montanha
  • Movimento Xingu Vivo Para Sempre
  • Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade
  • Movimento Negro da Transamazônica e Xingu,
  • Movimento de Mulheres Campo e Cidade Regional Transamazônica e Xingu
  • Mutirão Pela Cidadania
  • Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Belém e Ananindeua
  • Partido Comunista Brasileiro (PCB)
  • Sintepp
  • Sintprevs
  • MLP – Movimento de luta popular/PA
  • Círculo Palmarino/PA
  • Intersindical
  • Movimento Xingu Vivo Para Sempre
  • Justiça Global
  • Sociedade Paraense de Direitos Humanos – SDDH
  • Prelazia do Xingu
  • Conselho Indigenista Missionário – CIMI
  • CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
  • Dignitatis – Assessoria Técnica Popular
  • Centro de Assessoria Popular Mariana Criola
  • Conectas Direitos Humanos
  • Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais
  • PACS – Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul
  • Rios Internacionais – Brasil
  • Associação Inter-Americana de Defesa Ambiental – AIDA
  • Amazon Watch
  • Terra de Direitos
  • KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço
  • Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
  • Fórum de Mulheres da Amazônia Parense
  • Rede de Mulheres Empreendedoras da Amazônia
  • APA-TO – Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins
  • ABO – Associação Brasileira dos Ogãs
  • AOMT BAM – Associação das Organizações das Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas
  • AART -AP – Associação de Artesãos do Estado do Amapá
  • ACANH – Associação de Comunicação Alternativa Novo Horizonte
  • ADCP – Associação de Divisão Comunitária e Popular
  • AGLTS – Associação de gays, lésbicas e transgêneros de Santana
  • AHPRIM – Associação de Hortifrutigranjeiros Pescadores e Ribeirinhos de Marabá
  • AMQCSTA – Associação de Moradores Quilombolas da Comunidade de São Tomé do Aporema
  • AMAP – Associação de Mulheres do Abacate da Pedreira
  • AMVQC – Associação de Mulheres Mãe Venina do Quilombo do Curiaú
  • APREMA – Associação de Proteção ao Riacho Estrela e Meio Ambiente
  • AMOB – Associação dos Moradores do Bengui
  • AEM – Associação Educacional Mariá
  • ASSEMA – Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão
  • GBNM – Associação Grupo Beneficente Novo Mundo
  • APACC – Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes
  • ACUMNAGRA – Associação Sóciocultural de Umbanda e Mina Nagô
  • Encanto – Casa Oito de Março – Oragnização Feminista do Tocantins
  • CCN – CENTRO DE CULTURA NEGRA DO MARANHÃO
  • CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
  • CENTRO TIPITI – Centro de Treinamento e Tecnologia Alternativa Tipiti
  • CPCVN – Centro Pedagógico e Cultural da Vila Nova
  • CPDC – CENTRO POPULAR PELO DIREITO A CIDADE.
  • CJ-PA – Coletivo Jovem de meio Ambiente do Pará
  • CPT – Comissão Pastoral da Terra
  • COMSAÚDE – Comunidade de saúde, desenvolvimento e educação
  • CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores
  • CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores
  • Cimi – Conselho Indigenista Missionário Regional N II
  • COMTRABB – Cooperativa de Mulheres Trabalhadoras da Bacia do Bacanga
  • COOPTER – Cooperativa de Trabalho, Assistencia Técnica, Prestação de Serviço e Extensão Rural
  • FAMCOS – Federação das Associações de Moradores e Organizações Comunitárias de Santarém
  • FECAP – Federação das Entidades Comunitárias do Estado do Amapá
  • FECARUMINA – Federação de Cultos Afroreligiosos de Umbanda e Mina Nagô
  • FASE – FEDERAÇÃO DE ÓRGÃOS PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL E EDUCACIONAL – Programa Amazônia
  • FETAGRI-PA – Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Pará
  • FÓRUM CARAJÁS – Fórum Carajás
  • Fórum dos Lagos – Fórum de Participação Popular em Defesa dos Lagos Bolonha e Água Preta e da APA/Belém
  • FMS BR163 – Forum dos Movimentos Sociais da Br 163 Pa
  • FunTocaia – Fundação Tocaia
  • GHATA – Grupo das Homossexuais Thildes do Amapá
  • GMB – Grupo de Mulheres Brasileiras
  • ISAHC – Instituto de Desenvolvimento Social e Apoio aos Direitos Humanos Caratateua
  • IDA – INSTITUTO DE DIVULGAÇÃO DA AMAZÔNIA
  • IMENA – Instituto de Mulheres Negras do Amapá
  • EcoVida – INSTITUTO ECOVIDA
  • ISSAR – Instituto Saber ser Amazônia Ribeirinha
  • ITV – Instituto Trabalho Vivo
  • UNIPOP – Instituto Universidade Popular
  • SNDdeN – IRMÃS DE NOTRE DAME DE NAMUR
  • MMM – AP – Marcha Mundial das Mulheres
  • MSTU – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO URBANO
  • MMIB – MOVIMENTO DE MULHERES DAS ILHAS DE BELÉM
  • MOEMA – MOVIMENTO DE MULHERES EMPREENDEDORAS DA AMAZONIA
  • MOPROM – MOVIMENTO DE PROMOÇÃO DA MULHER
  • MRE – MOVIMENTO REPÚBLICA DE EMAÚS
  • Mulheres de Axé – Mulheres de Axé
  • SINDOMESTICA – Sindicato das Empregadas Domésticas do Estado do Amapá
  • STTR/STM – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém
  • SINDNAPI – AP – Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical
  • STTR MA – Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
  • SODIREITOS – SOCIEDADE DE DEFESA DOS DIREITOS SEXUAIS NA AMAZÔNIA
  • UFCG – União Folclórica de Campina Grande
  • UMAMLAJ – União Municipal das Associação Morodores de Laranjal do Jari

http://xingu-vivo.blogspot.com.br/2012/03/comite-xingu-vivo-faz-protesto-contra.html

Enviada por Vania Regina Carvalho.

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