8 de março em Fortaleza – Mulheres em Luta contra o Patriarcado, Racismo e Capitalismo: por Justiça social e ambiental

Nós, mulheres do Ceará,  organizadas em  diferentes  movimentos sociais, organizações  feministas e partidos de esquerda, nos  juntamos para denunciar as opressões, desigualdades e  injustiças  sociais  e ambientais  provocadas por  um  modelo de sociedade  dominado pela lógica capitalista, racista e patriarcal, vimos às ruas nos  posicionar:

Contra o predomínio de uma falsa democracia imposta pelas elites, que reproduz o machismo, o racismo e que nega à população o direito de decidir sobre os rumos do mundo, impondo padrões econômicos, sociais e  culturais.

Contra as políticas e projetos que privatizam as cidades,  marginalizam populações, exploram e  transformam  mulheres e  meninas em mercadoria; contra  os incentivos  ao agronegócio e  o  trabalho explorado e  privatização dos  territórios,  como  o  complexo industrial e portuário do Pecém, a mina de urânio em Santa  Quitéria e  fazendas de camarão.

Contra as políticas autoritárias dos megaeventos, que expulsam comunidades pobres de seus locais históricos de moradia — a  exemplo  das  Comunidades  do Trilho,  do Serviluz,  na Serrinha,  no Castelão, no  Barroso,  no  Jangurussu,  próximas ao  Rio  Cocó  e Rio Maranguapinho, Comunidade  do Dendê, comunidades do Parque Água Fria, do Conjunto Palmeiras, do Poço da Draga e outras, em Fortaleza, com as quais nos solidarizamos  — para a  realização das obras da Copa e higienização da cidade em benefício das classes ricas, dos especuladores, das  empreiteiras e  das  indústrias  imobiliária  e  do turismo  de massa.

Contra o favorecimento da propriedade privada em detrimento dos direitos coletivos. Casos como o da Comunidade de Pinheirinho, em São Paulo, são uma prática cotidiana no Brasil e no Ceará, assim como os despejos de populações camponesas e as reintegrações de propriedade de terras improdutivas, marcados pelo racismo ambiental.

Contra a ofensiva ruralista e as mudanças propostas pelo Congresso Nacional ao Código  Florestal, que desconsidera a  função social da terra; penaliza e ameaça a agricultura camponesa em benefício do agronegócio. Exigimos que a  presidenta Dilma vete essa proposta e discuta com a  sociedade a  política ambiental brasileira.

Contra a mentira da “economia  verde”, construída pelos governos e iniciativa privada como saída para a crise social e ambiental.  Não é possível construir um capitalismo menos impactante e menos degradante. São necessários outros modos de  organização das sociedade e  a alteração urgente dos modos de consumo e  produção.

Contra as formas de fazer economia e política que impactam gravemente a vida das mulheres empobrecidas, excluídas do acesso à saúde, à educação, ao saneamento, à segurança pública e a outras demandas fundamentais para a  dignidade das  pessoas.

Contra toda forma de racismo, inclusive o ambiental, que promove impactos diferenciados e mais devastadores para os segmentos  mais pobres, para as/os negras/os, quilombolas e  indígenas.

Contra os ataques aos direitos sexuais e direitos reprodutivos e as 200 mortes de mulheres por ano no Brasil,  vitimadas pelos abortos clandestinos. É preciso garantir o direito de livre expressão sexual, de decidir sobre o seu  corpo e, sobretudo, o direito à vida das mulheres. A presidenta Dilma precisa vetar a Medida Provisória 557, que ficha as mulheres para puni-las. Queremos medidas efetivas que  melhorem a  qualidade dos  serviços  de saúde,  garantindo  os direitos reprodutivos, entre eles a descriminalização e legalização do aborto.

Contra a violência às mulheres: no Cariri, nos últimos 11 anos, quase 200 mulheres foram assassinadas, vítimas da violência doméstica e familiar. O  caso de Queimadas  (PB), em  que  cinco  mulheres foram  estupradas  coletivamente, demonstra  que  ainda há muito que  se fazer nessa luta. Apesar do avanço da lei Maria da Penha, é  preciso aplicar mais recursos  para a  implantação  de centros de referência,  construção  de casas abrigos e  delegacias especializadas onde as mulheres possam ter assistência  completa.

É nesse contexto que nós mulheres, em conexão com a história da luta das/dos trabalhadoras(es) como na primavera  árabe, nas(os) indignadas(os) da Espanha, nas(os) professoras(es), estudantes e outras(os) trabalhadoras(es) que  lutaram por direito em nossa cidade  e  na marcha das vadias, reafirmamos nossa  luta  para   mudar o  mundo e  a  vida  das  mulheres, integrando a  construção de igualdade  e liberdade das  mulheres às lutas por  transformações  globais na sociedade.

Entendemos que as lutas sociais devem ser contrárias a todas as estruturas que nos oprimem, exploram e  discriminam.

Estamos atentas, organizadas e dispostas a lutar até que todas sejamos livres!

Fortaleza, 08 de Março de 2012

Articulação  de  Mulheres Brasileiras,  Articulação  de  Mulheres Pescadoras,  Assembleia Nacional  dos Estudantes  Livres–ANEL, Ateliê  Gerassol, Barricadas, Casa  Chiquinha  Gonzaga, Central dos  Movimentos Populares-CMP,  Central Única dos  Trabalhadores–CUT, Central Sindical e Popular– CSP, Conlutas, Centro de Defesa da Vida Herbert de Sousa,  Consulta Popular, Federação dos Trabalhadores Rurais do Ceará–FETRAECE, Federação dos Trabalhadores no  Serviço Público Municipal do Estado do Ceará-FETAMCE, Fórum Cearense de Mulheres, Grupo de Resistência  Ambiental por  Outra(s)  Sociabilidade(s)–GRÃOS, Instituto Negra do Ceará–Inegra, Instituto Terramar, Liberdade de Amor entre  Mulheres no Ceará-LAMCE, Mandato Ecos da Cidade PSOL/CE (Vereador João Alfredo), Marcha Mundial das  Mulheres, Movimento de Mulheres Negras Afro Bérè, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento dos  Trabalhadores Rurais sem Terra-MST, Movimento Mulheres em Luta, Núcleo de Mulheres do PT, Núcleo de Mulheres Rosa Luxemburgo, PSOL/CE, Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares–RENAP/Ceará, Secretaria de Mulheres do PSTU, e Tambores  de Safo.

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