PVC ou placa de cimento?

Por Expedito Solaney*

A palavra cisterna vem do latim.  É um reservatório de águas pluviais que pode, inclusive, ser abastecido pelo degelo da neve, o que não se aplica ao Brasil. Em nosso país elas são mais utilizadas na região do semiárido nordestino. E é justamente lá que surgiu, há cerca de dois meses, a polêmica: equipamentos de concreto versus plástico PVC.

No Natal de 2011, a presidenta Dilma Rousseff inaugurou o projeto que visa substituir a construção das cisternas de placa de cimento pelas de PVC, uma doação para as familias inscritas no Programa Bolsa Familia.

Polêmicas não faltam de ambos os lados sobre a substituição dos equipamentos. Um dos argumentos é que o tipo de plástico usado deveria ser resistente ao clima brasileiro, ou seja, as altas temperaturas registradas na região Nordeste.

Entre os críticos das cisternas de PVC, surgem, ainda, denúncias de que o lobby das empresas de plástico pode ter prevalecido sobre o trabalho histórico da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

Mais um inverno se aproxima. As chuvas vão começar a cair no Nordeste e precisamos definir se o melhor para o povo é armazenar a água em cisternas de concreto ou de plástico.

As cisternas de placas de cimento representam uma tecnologia social de baixo custo, adequada à região do semiárido brasileiro. Se comprovadas as denúncias de que tais cisternas estariam alimentando a corrupção e o desvio de dinheiro público na região, é preciso providências e punição aos responsáveis, o que não justifica substituir o modelo de equipamento.

A implementação destas cisternas tem o objetivo de disponibilizar o acesso à água às famílias residentes na zona rural de municípios que sofrem com os efeitos da seca e da falta d’água de boa qualidade para consumo humano.

Como nordestino, por tudo que vi, acompanhei e conheço sobre a região, estou convencido que as cisternas de placa de cimento são a melhor opção para o povo. Assim como o fortalecimento das atividades comunitárias e do processo pedagógico realizado pela ASA junto às comunidades beneficiadas, aliado ao trabalho de agrônomos engajados no Programa, orientando na implantação de hortas com a água dos equipamentos de concreto, de mandalas, de barragens subterrâneas e irrigações simples por gotejamento.

O público-alvo do programa das cisternas são as famílias de baixa renda da zona rural de municípios do semiárido, que não disponham de fonte de água ou meio suficientemente adequado de armazená-la para o suprimento das suas necessidades, e que possuem renda per capita familiar de até meio salário mínimo ou, no caso dos idosos, renda total da família de até três salários mínimos, devendo ser priorizadas aquelas enquadradas nos critérios de elegibilidade do Bolsa Família.

A região do semiárido brasileiro sempre foi alvo de muita corrupção, clientelismo e patrimonialismo. Numa outra perspectiva, nessa mesma região, a partir do envolvimento das famílias em torno de tecnologias simples, baratas e de grande impacto, gestadas a partir dos conhecimentos e das práticas das comunidades, foram sendo construídas cisternas de placas de concreto. De algumas dezenas, passaram para centenas e, hoje, são cerca de 500 mil reservatórios, segundo dados da ASA.

Isto é resultado de uma ação conjunta de organizações sociais e dos governos federal, estaduais e municipais, além de bancos e empresas.Assim, gradativamente foi crescendo a perspectiva da política de convivência com o semiárido. Este é o caminho para que o Brasil, a partir da efetivação do Programa Água para Todos, no contexto do Plano Brasil Sem Miséria, possa finalmente comemorar a decisão governamental de universalizar as cisternas, pôr fim à indústria da seca e garantir água de qualidade a todas as famílias rurais do semiárido.

*Expedito Solaney é secretario nacional de Políticas Sociais da CUT.

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