Novo Peluso consegue acalmar CNJ

Presidente reconheceu erros da gestão e prometeu maior transparência e diálogo no Conselho Nacional de Justiça

Severino Motta, iG Brasília

Com expectativa de tensão, a sessão extraordinária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) marcada para esta quinta-feira não passou da breve leitura de uma nota à imprensa. Ao invés de trazer os problemas do colegiado para o debate no plenário, o presidente do CNJ, Cezar Peluso, passou cerca de quatro horas numa reunião fechada com os conselheiros e conseguiu evitar questionamentos sobre possíveis irregularidades nas licitações do órgão. Segundo relatos de quem participou do encontro, um “novo Peluso” conduziu as conversas, reconheceu erros e prometeu transparência e melhorias na comunicação do Conselho.

Diferente do habitual, Peluso chegou à reunião junto dos demais conselheiros. Fez questão de sorrir e cumprimentar um por um. “Depois da reunião muitos de nós comentamos essa nova coisa fraterna do presidente”, disse um dos participantes do encontro.

Ao iniciar os trabalhos, Peluso destacou que não só a licitação para a compra de um software de banco de dados de R$ 86 milhões deveria ter sido aberta aos conselheiros, como também os demais trabalhos da corte.

Ele prometeu mais transparência, garantiu acesso aos dados da problemática licitação e passou a palavra à diretora-geral do CNJ, Gláucia de Paula, que deu respostas aos questionamentos feitos pelo conselheiro Gilberto Valente Martins sobre o processo de compra do software de banco de dados.

De acordo com conselheiros ouvidos pelo iG, o colegiado, após ouvir as explicações de Gláucia, resolveu dar um voto de confiança ao presidente. Fizeram, então, um acordo. Uma nota negando irregularidades no processo licitatório seria lida na sessão extraordinária, que seria encerrada sem debates públicos. Por outro lado, os conselheiros entenderam que uma cópia do trâmite da licitação deveria ser enviada para que o Tribunal de Contas da União (TCU) analise a existência de possíveis falhas.

“O sentimento que ficou é que não existiu nada de irregular, somente erros formais. Se cancelássemos a licitação o CNJ ficaria sem o dinheiro. Optamos, então, por enviar o material para o TCU e esperar que ele se manifeste. A explicação de hoje nos convenceu, mas podemos ter deixado detalhes técnicos passar, por isso essa atitude”, disse ao iG um dos conselheiros que esteve na reunião.

Após o momento licitação, os conselheiros passaram a questionar o presidente sobre outras mazelas. Um dos primeiros pontos levantados foi a falta de comunicação interna. Integrantes do colegiado reclamaram que só sabiam de projetos, ações e problemas do CNJ através da imprensa.

Peluso disse que como presidente do colegiado assumiria a responsabilidade pelo erro. Pediu que sua equipe técnica produzisse um projeto para melhorar o fluxo de informações do CNJ. Também pediu aos conselheiros que lhe enviem sugestões para tratar do problema.

Outra cobrança foi no tratamento dado à imprensa. Os conselheiros falaram que o presidente deveria falar mais com jornalistas, trabalhar também como porta-voz do CNJ junto à imprensa. “O Gilmar fazia isso muito melhor que o Peluso. Não falamos isso a ele, claro, mas dissemos que essa comunicação deveria melhorar. Ele não chegou a dizer que vai falar mais pelo CNJ, mas entendeu que isso é um ponto que precisa mudar, que o CNJ precisa se comunicar melhor com a imprensa”, disse um conselheiro que, como outros colegas, preferiu não se identificar.

Reunião Produtiva

De acordo com o conselheiro Jefferson Kravchychyn, a reunião desta tarde foi uma das melhores realizada na gestão Peluso. Ele disse que todos os questionamentos foram feitos com clareza e em clima cordial.

“O presidente entende que há alguns pontos a serem melhorados no CNJ. É preciso que ele fique mais coeso, trabalhe de forma mais integrada. Temos dificuldades pois somos um colegiado novo, com alta rotatividade. Às vezes a máquina anda sozinha, vamos trabalhar propostas para melhorar o Conselho”, disse.

Quem também destacou o clima diferenciado da reunião desta tarde – em que o “novo Peluso” fez até mesmo piadas – foi o conselheiro Jorge Hélio. “A reunião foi muito boa. Ninguém subiu a oitava, todos os assuntos foram debatidos de forma transparente e serena. Ficamos com o seguinte sentimento: ‘Por que não é sempre assim?”, pontuou.

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/novo-peluso-consegue-acalmar-cnj/n1597600682145.html

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.