Maurício Tizumba é a estrela do musical Galanga, Chico Rei

Espetáculo estreia no Espaço Cultural Tambor Mineiro

Musical inspirado na trajetória do responsável pela introdução do congado no Brasil, Galanga, Chico Rei, de Paulo César Pinheiro, estreia em BH prometendo repetir o sucesso que fez no Rio de Janeiro. Protagonizado por Maurício Tizumba e dirigido por João das Neves, o espetáculo é a quarta incursão do compositor e escritor na temática afro-brasileira.

Tudo começou com o samba Canto das três raças, que Paulo César compôs em 1976, em parceria com Mauro Duarte, para Clara Nunes (sua mulher na época) gravar. Desde então, o tema passou a frequentar a produção do autor. Depois do livro Atabaques violas e bambus (2000) e do musical Besouro cordão-de-ouro (2006), ele manda para os palcos a saga passada em Minas Gerais. A trilogia será encerrada com espetáculo sobre o maracatu pernambucano, previsto para este ano.

“O livro Atabaques violas e bambus, na verdade, foi o que detonou tudo. Ele é uma síntese, soma os três temas dos quais mais falo”, conta Pinheiro. Ele se refere às raízes portuguesa, negra e indígena da cultura brasileira. O autor não deixa de citar como fonte de inspiração o sexto e último romance histórico de Agripa Vasconcelos, Chico Rei, que traz à tona um dos episódios mais cruéis da história brasileira, com repercussão por toda Minas Gerais.

Capturado no Congo, o rei africano chegou como escravo ao Brasil. Depois de muito garimpar, Chico conseguiu enriquecer e comprar a sua liberdade, a do filho e de toda a sua tribo, além da mina em que trabalhava. “Apesar de se tratar de uma história de muito sofrimento, ela é muito bela. Garimpeiro em sua terra, Chico chega às Minas Gerais. Ao fazer uso de artimanhas, começa, ardilosamente, a guardar o ouro que garimpou para comprar a própria liberdade”, relata Paulo César.

Depois de alforriar sua tribo, o milionário Chico Rei promoveu grande festa para inaugurar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que mandou construir em Ouro Preto. “Sem saber do que se tratava, a Igreja Católica permitiu a festa de coroação da santa, introduzindo o congado no Brasil”, destaca Paulo César Pinheiro. Com esse musical, o autor quer homenagear não apenas o escravo-rei, mas a manifestação musical e religiosa de origem africana.

Entrevista

MAURÍCIO TIZUMBA
MÚSICO E ATOR

“Ele não morre”

Na pele de Pai Grande, Maurício Tizumba é responsável por contar ao público a saga do escravo herói. O ator, cantor, compositor, congadeiro e instrumentista fala do novo musical, depois de estrelar Besouro cordão-de-ouro, A turma do Pererê, Saltimbancos, Grande Otelo – Eta moleque bamba, A zeropeia, A sombra do sucesso, O homem que sabia português, Hollywood bananas e Pianíssimo.

Quem é Pai Grande?

É um preto velho daqueles que já vi e conheci ao longo da vida, que sempre tem algo para contar à gente. Ele pode ser um Luís Carolino, um Joaquim Lima, ambos pretos velhos congadeiros.

Que peso ele tem para a sua carreira?

Na verdade, tornou-se um presente, pois traz toda a carga de sabedoria da negritude, da travessia do Atlântico e do aprendizado da sobrevivência aqui.
Até que ponto a militância na causa negra e a experiência como congadeiro contribuíram para a construção do personagem?
Venho militando há anos na causa, sei da defasagem que há entre os povos branco e negro. Sinto que, a cada dia, fica mais difícil para o branco pagar o que deve ao negro. A oportunidade para falar do assunto é incrível. Principalmente por meio de um belo texto como esse que Paulo César Pinheiro escreveu.

Qual é a importância de Chico Rei para o Brasil?

Para mim, é interessante porque ele entra para a história e não morre. Não matam ele. Chico sobrevive, enriquece e volta a se tornar rei no Brasil. Sequestrado como escravo no Congo, passa por atrocidades e vira rei de novo. Trata-se de um exemplo de força para que se sobreviva com dignidade às atrocidades.

De herói a lenda

Para o diretor João das Neves, Chico Rei é herói raro no Brasil. “Exemplo a ser seguido tanto por um lado quanto por outro”, diz. O teatrólogo chama a atenção para a aura em torno das lendas sobre o escravo que se tornou rei.
João ressalta o fato de Chico ter se tornado símbolo da apropriação, por meio da congado, da religião católica pelos negros. Reza a lenda que Chico foi o primeiro rei congo a promover um terno no país, em 1717, em Vila Rica – atual Ouro Preto. Com o passar dos anos, os rituais foram incorporando elementos de origem europeia, transformando-se em manifestação do sincretismo religioso.

Com esse novo musical, o diretor diz retomar uma narrativa característica da África, por meio da figura do crioulo que conta a sua própria história. “Trata-se da forma épica que Pai Grande individualiza, coletivizando a experiência com o público em Galanga, Chico Rei”, conclui.

Tributo ao congado

Congadeira de Oliveira (MG) e casada com o diretor João das Neves, a cantora Titane assina a direção musical do espetáculo. Além de composições de Paulo César Pinheiro (Galanga, Chico Rei, Congadeiro e Falange, parceria com Sérgio Santos, e outras sete inéditas), Titane acrescentou canções de domínio público, introduzindo elementos afromineiros e afro-brasileiros ao espetáculo.

Como no congado, o refrão é repetido por todos enquanto o capitão (Pai Grande) evolui melodicamente, em um texto de improviso, na medida em que a narrativa da dramaturgia permite.

“Deixo que a música apareça com o sentido cênico dela antes de qualquer coisa”, explica Titane. Vasto demais e ainda pouco conhecido, o congado é trabalhado apenas com o instrumental do moçambique (gungas e patangomes), além dos tambores e dos pandeiros.

Titane acrescentou à trilha o acordeão e o cavaquinho, comuns em alguns grupos de congado. “Ainda usamos um duo de violões e marimba de vidro”, revela.

GALANGA, CHICO REI

De hoje ao dia 29, sessões às sextas-feiras e sábados, às 21h, e domingos, às 20h, no Espaço Cultural Tambor Mineiro, Rua Ituiutaba, 339, Prado. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Classificação livre. Duração: 90 minutos.

Informações: (31) 3295-4149.

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