Higienópolis teme ‘invasão’ de craqueiros após operação da PM

Prédios que eram usados por dependentes na cracolândia ficam vazios; bairros vizinhos temem migração

Roberto de Oliveira e Juca Varella

Na padaria, na academia, ou no supermercado, moradores de Higienópolis comentam: “Eles estão subindo”. A frase é uma referência ao aumento de circulação de craqueiros pelas ruas de um dos mais tradicionais bairros nobres de São Paulo.

Segundo eles, esse movimento é reflexo direto da ação da PM, que começou na última terça, para minar o tráfico de drogas na cracolândia.

“Eles começaram a vir para cá”, afirma o empresário Roberto Carvalho, 45. “Os usuários”, continua ele, “seguem uma ‘lógica topográfica’. Se lá no centro não podem ficar, onde vão pedir comida, dinheiro? Aqui.”

A Folha encontrou grupos de usuários de crack perambulando por bairros como Campos Elíseos, Santa Cecília e Barra Funda. Em Higienópolis, o número é bem menor. O que se vê são, geralmente, duplas pelas ruas.

A reportagem conversou com um rapaz, que disse ser usuário de crack, na rua Maranhão. Ele se identificou apenas como Marcos, 21.

Contou que nasceu em Bauru (SP) e que chegou a São Paulo sete anos atrás. Viveu seis deles na cracolândia. Nesta semana, montou cama de papelão no estacionamento de um supermercado, onde “mora” também um casal de usuários da droga.

Marcos afirma que só sai dali para ir comprar pedra. “Os caras [traficantes] também circulam. Se a gente subiu, eles sobem juntos.”

A aposentada Elza Bucciaroni, 85, que vive em Higienópolis há décadas, diz que estranhou a presença de cinco garotos na rua Maranhão ontem. “Estavam sem camisa, magrinhos, com aparência de quem consome droga”, conta. “Aqui sempre foi muito tranquilo. Não se via isso.”

Reforço policial
Nas palavras do chef José dos Anjos Rodrigues, 49, a ação da PM surtiu “efeito tsunami”. “A sensação é de uma invasão, como uma onda que você não tem controle”, explica. “Se não agirem, a situação vai piorar. E não só aqui, como em outras regiões.”

Usuário de crack, Manoel Alves de Lucena, 33, conta que se “mudou”, nesta semana, para uma rua de Higienópolis.

De acordo com o tenente-coronel Wagner Rodrigues, essa “migração” já estava prevista no planejamento da PM. “O policiamento está sendo reforçado em pontos estratégicos, inclusive em Higienópolis.”

Para a psicóloga Daniela Dau, 33, outra moradora do bairro, é “óbvio e natural” que, após desmantelarem a cracolândia, os usuários iriam se dispersar, principalmente pelas proximidades.

“Lá, eles não chamavam a atenção”, diz. “Aqui, vão chamar. Não dá para a gente ignorar. Achar que, pelo fato de estarmos no meio da riqueza, num bairro privilegiado, vamos ficar imunes a esse problema. É uma sociedade.”

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1030728-higienopolis-teme-invasao-de-craqueiros-apos-operacao-da-pm.shtml

Enviada por José Carlos.

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