Por que dizer que alguém é gay ou lésbica é encarado como xingamento?, por Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Sabemos que dizer que alguém é “gay” ou “lésbica” em uma sociedade heteronormativa e machista como a nossa pode carregar uma montanha de intenções negativas. O significado não é apenas a orientação sexual, mas todo um pacote de comportamentos fora do padrão que foram equivocadamente imputados a esses grupos ao longo do tempo.

O que não é aleatório, mas sim uma forma de separar o certo e o errado, o quem manda e quem obedece, ditados pelo grupo hegemônico. Como as piadas, que existem em profusão para rir de gays, travestis, negros, mulheres, terreiros, pobres, imigrantes e raramente caçoam de pessoas ricas ou famílias de comerciais de margarina na TV.

Mas imagine se isso não acontecesse, se a orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa não fizesse diferença alguma porque, na prática, não faz mesmo. Se assim fosse, caso alguém dissesse que um jogador de futebol é gay, ninguém se abalaria.

O ator George Clooney que, vira e mexe, tem a sexualidade tornada motivo de pauta pela imprensa sensacionalista, afirmou que não desmentia os boatos de que seria gay porque isso seria uma atitude grosseira com seus amigos gays e com os homossexuais em geral. Pois ser gay não é algo ruim ou vergonhoso e, para ele, não faz diferença se pessoas ficam em dúvida quanto a sua orientação sexual. (mais…)

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Degradação do Rio Jequitinhonha sufoca comunidades e mata costumes

jequitinhonha secoModo de vida dos quilombolas está ameaçado e os cânticos das lavadeiras estão desaparecendo

Mateus Parreiras – Estado de Minas

Serro – Doenças, redução da oferta de água para consumo e queda da geração elétrica são o resultado de anos de degradação das bacias hidrográficas e de uma rede de nascentes desamparada. Mas, no município do Serro, no Vale do Jequitinhonha, despejos de esgoto doméstico, comercial e detritos de matadouros nos mananciais produzem uma devastação que extrapola o prejuízo ambiental: começa a degradar a cultura de povos tradicionais, na bacia em que convivem um dos maiores bolsões de pobreza do país e expressões culturais das mais ricas e genuínas. A devastação do Jequitinhonha, cenário que inspira música, artesanato e formas de cultivo, avança em direção à cabeceira, que começa a ser castigada pouco mais de um quilômetro depois de brotar nos chapadões do cerrado mineiro, onde o rio começa sua saga de mazelas ambientais e sociais até chegar à Bahia e desaguar no mar, nam altura do município de Belmonte.

O isolamento manteve praticamente intocada a nascente do Rio Jequitinhonha, no Serro, a 320 quilômetros de Belo Horizonte. Mas o córrego de águas translúcidas, que é imagem presente na cultura local, desce sem a ação nociva do homem por apenas 1.300 metros. Já nessa altura, o igarapé precisa transpor a canalização do aterro da rodovia BR-259, onde recebe resíduos carreados da via, como combustível, óleo e cargas que vazam pelas canaletas de drenagem. Passados mais 10 quilômetros, a paisagem da nascente dá lugar ao fluxo intenso de esgoto do distrito de Pedro Lessa, que é carregado pelo Córrego Acabassaco e mancha o manancial com mais poluentes. (mais…)

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Na falta de estrutura, Guta Assirati, presidente interina, tenta suprir com simpatia o esvaziamento da Funai

raoni e guta funai
Cacique Raoni e Maria Augusta Assirati

Por Cynara Menezes, em CartaCapital

Como se vê na foto menor em que aparece o cacique Raoni, os índios costumam olhar para Maria Augusta Assirati, a atual e ainda interina presidente da Funai, como se ela fosse uma versão contemporânea de Iracema, a virgem dos lábios de mel do romance de José de Alencar. Infelizmente, Guta não exerce o mesmo fascínio sobre os ocupantes do Palácio do Planalto. Enquanto a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu, crítica contundente do trabalho dos indigenistas, teve ao menos quatro audiências com Dilma Rousseff nos últimos 12 meses, a responsável pela Funai só foi recebida uma única e escassa vez pela presidenta. E há nove meses espera em vão sua efetivação no comando da fundação.

A advogada paulistana de 37 anos tenta manter o sorriso quando pergunto se o fato de não ter sido efetivada é um sinal claro do esvaziamento do órgão. “Ter um presidente efetivo, passar por uma situação de estabilidade, seria um reconhecimento importante”, desconversa. Insisto: os indígenas estão entre as prioridade do governo? “Na verdade, os índios nunca foram prioridade de governo algum. Há 500 anos é assim.” (mais…)

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