O ser professor, por Cândido Grzybowski

No Ibase

Só falta construir muros na cidade do Rio, pois a segregação é uma realidade cruel. Ser pobre, negro(a), indígena, ou tudo isto misturado, é estar de um lado, nos morros, nas áreas populares, na periferia, perto e ao mesmo tempo distante de tudo, apartado na cidade que, no entanto, é de todos e todas. No outro lado, no asfalto, na Zona Sul e suas praias, branco(a)s de muitos matizes, mais rico(a)s, de “classe média” ou viradore(a)s remediado(a)s estão os e as que se consideram “dono(a)s” da cidade, com direito de definir áreas exclusivas para si e com poder para subjugar governantes, representantes políticos, polícias e políticas públicas, tentando fazer tudo funcionar ao seu favor. Basta olhar o mapa da cidade e ver como tudo opera segregando, reproduzindo no território a lógica de negação de direitos e de cidadania para grandes maiorias. (mais…)

Ler Mais

Um mundo cada vez mais murado

Por Raquel Rolnik, No Blog Habitat do portal Yahoo!

Foi com entusiasmo que o mundo acompanhou pela TV, em 1989, a derrubada do muro de Berlim, que durante muito tempo separou a Alemanha Oriental, socialista, da Ocidental, capitalista, convertendo-se em ícone da Guerra Fria. O fim daquela barreira – que ficou conhecida como muro da vergonha – sinalizou para muita gente a chegada de uma era sem muros. De lá pra cá, porém, sem nenhum pudor, mais e mais muros vêm sendo erguidos, mais altos, mais sólidos, e mais conectados em equipamentos e estruturas de vigilância… (mais…)

Ler Mais

Você tem medo de morrer quando vai ao bar? E chance de morrer?, por Leonardo Sakamoto

No Blog do Sakamoto

Muitas das manifestações culturais e da vida noturna que pipocam longe do centro expandido da cidade não deixam nada a desejar às dos bairros ricos de São Paulo. A não ser pelo fato de que, na prática, um garoto ou uma moça podem ficar até altas horas no Itaim Bibi ou na Vila Madalena bebendo de forma segura. Enquanto que, na periferia, o risco de morrerem baleados ou em uma chacina.

Quem tenta sorrateiramente afirmar que os mais ricos também estão à mercê do mesmo tipo de violência que jovens negros e pobres da periferia é inocente ou desonesto. (mais…)

Ler Mais

A lição dos gigantes humildes: Colônia Santa Teresa, 75 anos do Holocausto Hanseniano

Vítimas da hanseníase transformaram o horror da clausura em uma das experiências de amor à arte e à vida comunitária mais belas da humanidade

Por Raquel Wandelli*, em Combate Racismo Ambiental

Quando posam para fotografia, eles se abraçam e escondem inconscientemente as mãos nas costas entrelaçadas. Pequenas e atrofiadas, feito as asas feridas de um pássaro, as mãos são a única sequela visível da doença no corpo. São as mesmas mãos que Cristo beijou numa solenidade antiga. Há muitas décadas já estão completamente curados, mas o preconceito e as marcas psicológicas da violência contra os sobreviventes do holocausto hanseniano nunca se apagam de todo. Submetidos à clausura compulsória, Benício Pereira, 85 anos e Antônio Scabeni, 74, se conheceram dentro do Hospital Colônia Santa Teresa, em São Pedro de Alcântara (SC), onde se casaram com as irmãs Sita Eger Pereira, 83, e Bernadete Eger Scabeni, 77, também presas por apresentarem os sintomas da doença. Ali, recolhidos ainda crianças e adolescentes, esses casais cresceram, tiveram filhos, sofreram a dor de muitas separações forçadas e escreveram a história secreta de uma vida verdadeiramente comunitária. (mais…)

Ler Mais

Marginalzinho: a socialização de uma elite vazia e covarde

Parada em um sinal de trânsito, uma cena capturou minha atenção e me fez pensar como, ao longo da vida, a segregação da sociedade brasileira nos bestializa

Por Rosana Pinheiro-Machado, Carta Capital

Era a largada de duas escolas que estavam situadas uma do lado da outra, separadas por um muro altíssimo de uma delas. Da escola pública saíam crianças correndo, brincando e falando alto. A maioria estava desacompanhada e dirigia-se ao ponto de ônibus da grande avenida, que terminaria nas periferias. Era uma massa escura, especialmente quando contrastada com a massa mais clara que saia da escola particular do lado: crianças brancas, de mãos dadas com os pais, babás ou seguranças, caminhando duramente em direção à fila de caminhonetes. Lado a lado, os dois grupos não se misturavam. Cada um sabia exatamente seu lugar. Desde muito pequenas, aquelas crianças tinham literalmente incorporado a segregação à brasileira, que se caracteriza pela mistura única entre o sistema de apartheid racial e o de castas de classes. Os corpos domesticados revelavam o triste processo de socialização ao desprezo, que tende a só piorar na vida adulta. (mais…)

Ler Mais

Camarotização: por que o brasileiro gosta tanto de segregar o espaço?

Para especialista, o acesso das camadas mais populares ao que antes era exclusivo da elite fez com que o racismo e discriminação “saíssem do armário”

Marian Rossi, El País Brasil

Camarotização. A gourmetização do espaço. A palavra ganhou força na última semana depois de aparecer no tema da redação do vestibular da USP, o mais concorrido do país, mas já faz tempo que o camarote faz sucesso ao prometer fazer do cidadão um ser diferenciado – para usar uma palavra cara ao público adepto. (mais…)

Ler Mais