O avanço tem as características de uma hegemonia ideológica: faz parecer que os interesses da classe dominante coincidem com os interesses da maioria
Por Roberto Amaral*, em Carta Capital
Vivemos, vive a Humanidade, sob o avanço do pensamento conservador, produto de visões de mundo que remontam ao mais puro fascismo. Um só exemplo é a onda de racismo e xenofobia que domina a Europa.
Da Europa, “este nobre continente” que, após séculos de colonialismo predador e genocida nos deu o fascismo, o nazismo e o stalinismo e duas guerras mundiais, sopram os ventos do mais tacanho ideário conservador, de par com o recuo ideológico e político da esquerda, sob todos os seus matizes, ou seja, englobando desde os comunistas às organizações socialdemocratas.
Os mais velhos dirão: ‘eu já vi este filme’.
A crise financeira mundial em que vivemos desde 2008 – produto da alucinada desregulamentação do mercado imposta pela ideologia do neoliberalismo –, não foi o gatilho detonador desse recuo, pois o fenômeno vem de décadas, remontando, para fixarmos um momento histórico, à ‘queda do muro de Berlim’ e ao desmantelamento da URSS, com todos os seus significados e consequências geoestratégicas, políticas, econômicas e militares. Alguns poucos indicadores: o fim do Pacto de Varsóvia e a expansão da Otan para além do Atlântico Norte, a desagregação do ‘Leste Europeu’ e a incorporação pela União Europeia (um moloch que jamais se sacia) dos antigos países ‘comunistas’ europeus, o consenso de Washington, a onda neoliberal e a ditadura intelectual do pensamento único.
Nessa mesma Europa e nessa mesma ‘onda’ desaparecem – com algumas exceções, como a portuguesa e a grega – os Partidos Comunistas ocidentais, e a tragédia mais notável foi a do justamente festejado Partido Comunista Italiano (PCI), conhecido pelas suas ideias renovadoras e pujança organizacional. Seu féretro levou consigo o eurocomunismo que chegou a entusiasmar alguns intelectuais brasileiros.
Cheia de si, a direita chegou a proclamar ‘o fim da História’ e o fenecimento do marxismo e das ideias socialistas. Uma versão dessa tolice é o anunciado fim da disjuntiva esquerda-direita, de livre curso ente nós. É um dos discursos da ‘pós-modernidade’. (mais…)
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