Uma alma assassinada

A renúncia à lei humana mais fundamental, que justifica a tortura, destitui seus atores do título de homens para o de executores anônimos. O mal tem força para contaminar a sociedade e submeter o Estado de direito

Jean-Claude Rolland*

A estranheza onde se mantinha Tito por conta de sua identificação forçada com o delegado Fleury o cortava radicalmente de sua comunidade de acolhida, o isolava absolutamente. Os cuidados, a atenção a ele prestados vinham acompanhados, inevitavelmente, por uma espécie de suspeição de que haveria no seu “delírio” algo de simulacro, uma má vontade, uma recusa de viver; tal suspeição não era infundada, mesmo se lhe faltava lucidez. Pois, de fato, Tito não era mais Tito. Ele era (também) Fleury, e isso não era um fingimento, mas o efeito mecânico de uma intrusão do outro, por meio de suas palavras, reduzidas ao seu poder de penetração. A tortura, que abole a capacidade da linguagem de sublimar o real, abole ao mesmo tempo o poder do eu para lidar com o real e sua violência. (mais…)

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Tratar, testemunhar

Psicanalista que cuidou de frei Tito analisa os efeitos psicológicos da tortura que levou ao suicídio o religioso brasileiro na França, depois de sevícias sofridas nos cárceres da ditadura militar brasileira

Jean-Claude Rolland

“Pensava que havíamos dito tudo o que sabíamos sobre Tito de Alencar, quando, logo depois de sua trágica morte, nós assumimos uma série de encontros e de trabalhos para – aqui me falta a palavra adequada: honrar, salvar, fazer justiça? – sua memória. Nós: somos os frades dominicanos que o acompanharam de perto nos últimos meses de sua vida, tendo por nomes: Roland Ducret, Xavier Plassat e François Génuyt – e eu, a quem haviam confiado o tratamento do seu estado mental, doído e inquietante. Nós organizamos um seminário no convento de La Tourette, interrogamos a todos aqueles que o tinham conhecido depois do seu exílio na França; participamos de um programa de TV. Escrevi um artigo, “Um homem torturado, Tito de Alencar”. Todos esses eventos se concentravam naquilo que a dor de Tito testemunhava de forma até ensurdecedora: experiência sem nome, sem rosto humano, experiência indescritível e inimaginável da tortura. (mais…)

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CNBB se posiciona contra anistia para desmatadores

Débora Álvares – Correio Braziliense

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se posicionou nessa sexta-feira sobre os principais temas em discussão nos seis primeiros meses do governo Dilma Rousseff. Entre os pontos abordados durante o Conselho Permanente, que esteve reunido entre quarta e sexta-feira, a entidade discutiu as modificações aprovadas na Câmara dos Deputados no Código Florestal – a proposta agora está em discussão no Senado – e as recentes mortes de ativistas no Amazonas. As modificações no alto escalão do governo federal – troca de comando da Casa Civil e Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República – também foram alvo de comentários dos bispos.

Na mesma linha do governo, as críticas da CNBB ao novo Código Florestal se fixam em dois pontos da proposta: a mudança nas regras para as áreas de preservação permanente (APPs), cuja atribuição de legislar acerca da produção fica, segundo a proposta, na mão dos estados, e a chamada anistia aos desmatamentos antigos.

“Anistiar é um problema. Não é possível que todo esse desmatamento seja esquecido”, afirmou dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB e bispo prelado de São Félix do Araguaia (MT).  (mais…)

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Marcha em Belo Horizonte tem tumulto entre manifestantes e polícia

Durante a passeata, os manifestantes aplaudiram a decisão do STFCristiano Trad/ O Tempo/AE
Em Minas, Marcha das Vadias se juntou à da Liberdade

Um tumulto foi registrado durante o trajeto da Marcha da Liberdade, em Belo Horizonte, na tarde deste sábado (19). Alguns participantes entraram em confronto com integrantes da Guarda Civil e policiais militares que estavam em frente à prefeitura da capital mineira. Os guardas usaram cassetetes e spray de pimenta para dispersar os manifestantes mais exaltados. Não houve registro de feridos ou prisões.

Integrante do movimento pela descriminalização da maconha, Victor do Carmo disse que ele e outros representantes da chamada “marcha da maconha” se retiraram quando alguns manifestantes fecharam uma via de acesso à praça da Liberdade – ponto final da passeata. O trânsito na região ficou bastante complicado.

– Alguns manifestantes ameaçaram invadir, mas foi um caso isolado.

Segundo a PM, cerca de 800 pessoas participaram do ato na capital mineira. Os organizadores falaram em 1.300  manifestantes. (mais…)

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