Mariana e a mercantilização do meio ambiente

O Brasil deve recuperar a natureza pública de seus recursos naturais e romper com a lógica mesquinha da mercantilização desse potencial estratégico.

Paulo Kliass*, Carta Maior

A catástrofe de Mariana e a ação criminosa desenvolvida pelas empresas Samarco e Vale trazem ao centro da cena o debate a respeito do processo de mercantilização crescente da ação do ser humano sobre o meio ambiente. O aprofundamento da tendência de acumulação de capital em escala planetária tem transformado, de forma crescente e alarmante, a exploração dos recursos naturais em mais um espaço de multiplicação dos ganhos econômicos e financeiros.  (mais…)

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Paris, Bento Rodrigues e a tragédia

Por Débora Diniz, em Justificando

Uma tragédia mata pessoas — foi assim em Paris e em Bento Rodrigues. A desgraça chega sem pedir licença, pode ser hora de festa ou de comida na casa. Em Paris, as pessoas morreram ao som de música ou com gosto de café; em Bento Rodrigues, Keila Fialho preparava o jantar. Dela, ouvi história da tragédia de lama e imaginei a longa madrugada em que não sabia se o barulho das pedras e árvores indicavam se o rio descia ou subia rumo ao esconderijo no alto de um morro. Fiz força para imaginar a mulher que narrava a tristeza da perdição. Queria deixá-la para sempre na lembrança — na minha e na sua —, pois o que escutei dela é o resumo do que faz a tragédia na intimidade, “a coisa mais valiosa era a foto de minha mãe”. A foto foi perdida, a mãe também, pois Keila foi menina órfã aos nove meses. A mãe morreu de Doença de Chagas aos 23 anos, um mal típico da pobreza, do mundo rural e esquecido do Brasil. Peço que escutem a voz de Keila antes de seguir o que escrevo. (mais…)

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David Harvey aposta na radicalização das cidades

Entrevistado no Brasil, ele sustenta: é nos grandes centros urbanos que capitalismo contemporâneo se reproduz — mas é de lá, também, que pode surgir alternativa

Por Daniel Santini*, na Adital

David Harvey não gosta de São Paulo. “Estive na cidade, nos anos 1970, e também em lugares, como Recife e Salvador. Eles foram totalmente tomados por arranha-céus e shopping centers. Todos, no Brasil, gostam de pensar que o país é especial – mas o que o Brasil tem de especial? É só capitalismo”. É assim, de maneira direta e clara, sem medir palavras, que ele respondeu a perguntas de um grupo reunido na capital paulista para uma entrevista coletiva organizada pela Fundação Rosa Luxemburgo. (mais…)

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Tragédia de Mariana: Muito além da lama, por Wagner Giron De La Torre*

Em GenJurídico

A tragédia consumada nestes últimos dias no município mineiro de Mariana, que arrebatou o bucólico distrito de Bento Rodrigues e destruiu com as bacias dos rios Doce, Guaxalo e do Carmo além do aniquilamento de ecossistemas relevantíssimos, nos conta, também, sobre uma relação de poder que, em meio ao maior desastre ambiental de Minas Gerais, acabou por unir partidos tão antagônicos como PSDB e PT.

Mas, quais seriam essas forças invencíveis que cobriram de lama incontáveis vidas humanas, soterraram modos culturais tradicionais e seculares além de ter extravasado os dejetos de um sistema capitalista inhenho até a embocadura dessa bacia fluvial aniquilada, que confinará esse fluxo de rejeitos no oceano Atlântico, nas costas litorâneas do Espírito Santo, perpetuando um impacto socioambiental que com certeza jamais será devidamente mensurado. Que forças são essas? (mais…)

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Paris: dupla moral diante do terror

Com um braço, governo francês lança bombas contra o ISIS. Com outro, vende armas à Arábia Saudita, que promove guerra suja contra Iêmen e é o principal inspirador dos fundamentalistas

Por Robert Fisk, com tradução de Victor Farinelli, em Carta Maior

O país que ofereceu o credo sunita wahhabista aos autores dos atentados de Paris não dará a mínima importância ao fato de o presidente francês, François Hollande soprar e ares de guerra no Médio Oriente. A Arábia Saudita já conhece essa ladainha, desde que ela surgiu na forma do discurso da Nova Ordem Mundial – em 1991, quando George Bush pai sonhava com uma expressão subhitleriana do Golfo Pérsico, onde poderia existir um oásis de paz, um lugar sem armas, onde as espadas se transformavam em enxadas, e a riqueza que provém dessas terras deixasse de partir em navios petroleiros para passar por oleodutos mais longos. (mais…)

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E se fosse a lama da Petrobras na Praia de Ipanema?, por Alceu Luís Castilho

Impacto da barragem destruída gera uma Escola Base às avessas; imprensa brasileira perde ímpeto acusatório quando casos emblemáticos envolvem as elites econômicas

No Outras Palavras

A maior catástrofe ambiental do século 21 no Brasil ganha novo ícone com a chegada da lama da Samarco (Vale, BHP) no Oceano Atlântico. Mas quem se importa com a avalanche gosmenta de resíduos na Praia de Regência, no Espírito Santo? Em um litoral que o biólogo André Ruschi define como “a Amazônia marinha do planeta“? Pouco após a barragem da mineradora se romper, no dia 5, houve quem perguntasse, diante da desatenção inicial da grande imprensa: “E se fosse com a Petrobras?” Cabe agora atualizar a pergunta: “E se essa lama estivesse chegando na Praia de Copacabana? Ou Ipanema, Leblon, Barra? Ganharia a capa de Veja?” (mais…)

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Peso da degradação ambiental recai sistematicamente sobre os mais pobres

Por Marco Weissheimer, no Sul21

A tragédia de Mariana fortalece a tese de que práticas empresariais irresponsáveis efetuadas com a complacência do Estado são tão mais frequentes e repetidas quanto mais as populações atingidas são de baixa renda e pertencentes a grupos étnicos pouco representados na esfera decisória, como povos indígenas e comunidades quilombolas. A afirmação é do professor Henri Acselrad, doutor em Planejamento, Economia Pública e Organização do território pela Universidade Paris 1, atualmente professor associado do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Acselrad vem a Porto Alegre neste final de semana para participar do 34º Encontro Estadual de Geografia, promovido pela Associação dos Geógrafos Brasileiros. (mais…)

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Jessé Souza: ‘A desigualdade é mais grave que a corrupção’

Em novo livro, sociólogo e presidente do Ipea critica cientistas e classe média tradicional

Por Nice de Paulo, em O Globo

RIO – Depois de dizer que os 40 milhões de brasileiros que ingressaram no mercado de consumo nos últimos anos não formavam uma classe média – como então alardeava o governo -, Jessé Souza, que assumiu a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em abril, promete mais polêmica com o livro “A tolice da inteligência brasileira”, que chega às lojas nos próximos dias. Nele, o sociólogo afirma que o Brasil não tem uma classe alta, mas sim uma “classe de endinheirados”. (mais…)

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O que une pedofilia a consumismo infantil

Violência sexual não é apenas problema de homens doentes. Cresce em sociedade que investe milhões em venda de sutiãs e maquiagem para meninas de 6 anos

Por Lais Fontenelle – Outras Palavras

No ultimo mês, um triste episódio sobre abuso sexual infantil invadiu as mídias e nos fez parar para refletir sobre o olhar que a sociedade atual, adoecida e machista, tem para mulheres e meninas. Demorei a decidir se escreveria ou não sobre o ocorrido. A demora se deu, talvez, por um desejo de preservar um pouco mais a menina, ou simplesmente porque o tempo demorou a passar para a digestão do fato. Contudo, como mulher, mãe de menina e ativista pelos direitos da infância, não poderia me omitir. Poderia parecer uma aceitação tácita dos fatos, e eu não aceito os fatos. Não podemos mais fechar os olhos para a falta de valores e de limites da sociedade de consumo contemporânea – em que tudo, até as meninas, transformam-se em mercadoria. (mais…)

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