Estratégia Amazônica

Por Délcio Rodrigues – O GLOBO

A geração de eletricidade acontece no Brasil basicamente por meio de usinas hidrelétricas, que respondem por 70% da atual capacidade instalada, e por termelétricas a óleo, carvão e gás natural, que respondem por 27% desta capacidade. Em anos menos chuvosos, as represas das hidrelétricas baixam e as termelétricas são acionadas mais frequentemente e por mais tempo, aumentando as emissões de gases de efeito estufa do setor e sua consequente contribuição às mudanças climáticas globais. É o que aconteceu no ano 2008, quando o fator de emissão desses gases a partir do setor elétrico deu um salto de 65% em relação ao ano anterior. E é também o que deve ocorrer neste ano de 2013.

Além de aumentar os custos da energia e sobressaltar carreiras políticas no governo federal, as baixas hidrológicas costumam gerar um tiroteio aos órgãos ambientais e do patrimônio histórico e propostas casuísticas motivadas por todo tipo de interesse. Neste recente período de baixa hidrológica, tem sido replicado um questionamento à construção de hidrelétricas “fio d´água”, isto é, de baixa capacidade de armazenamento e relativamente pequena área alagada por represamento dos rios.

Na Amazônia, o uso do fio d´água reduz o desmatamento e a área alagada de cada projeto e tem vantagens importantes na preservação de habitats e do estoque de carbono existente na floresta. Entretanto, é verdade que a tecnologia reduz a energia média gerada pela usina, já que com ela só é possível aproveitar toda a capacidade de geração do sistema na época das cheias, enquanto na estiagem a capacidade de produção cai em função do baixo acúmulo de água na represa. (mais…)

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A realidade Indígena

O imaginário brasileiro é repleto de estereótipos quando o assunto é o índio, mas a sociedade tem procurado ter uma visão mais real desta questão. Neste contexto, o Professor Francisco Guimarães, da Universidade Estadual da Bahia, fala da realidade atual da população indígena e da influência da educação brasileira e da mídia na percepção que a sociedade tem do índio.

Por Lukas Barbosa Mattos*, em Ciência e Cultura

Ciência e Cultura – Como o índio está inserido no mercado de trabalho brasileiro?

Professor Francisco Guimarães – Primeiramente, é necessário destacar que não dá para falar do índio de modo genérico, pois cada povo tem sua cultura e uma história própria e vive num contexto marcado por situações bem específicas.

Se formos falar do povo Pataxó, por exemplo, que vive no extremo Sul da Bahia, a questão da inserção no mercado de trabalho é bastante evidente em função da indústria do turismo em cidades como Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, que os atrai não só para a produção e comercialização de artesanato, mas para o trabalho em pousadas e outros estabelecimentos comerciais na região.

Além disso, alguns índios possuem estabelecimentos comerciais dentro e fora da reserva de Coroa Vermelha, principalmente voltados para a comercialização de artesanatos. Alguns desses estabelecimentos também são alugados para não índios.  Assim, muitas pessoas da comunidade, incluindo jovens e crianças, principalmente da comunidade de Coroa Vermelha são contratadas como vendedores ou atuam no mercado informal. (mais…)

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Alpargatas para um país de descalços: um retrato da crise na Espanha

Antigua Casa Crespo segue aberta, em meio a um dos momentos mais difíceis em 150 anos de funcionamento | Foto: Iuri Müller

Iuri Müller, de Madrid, especial para Sul21

Há centenas de edifícios históricos em Madrid e em todo o território espanhol. Palácios que viraram museus e hospitais, e palácios que, talvez anacronicamente, seguem sendo apenas palácios. E há praças de outros séculos, ruas esguias com construções mais antigas do que muitas das cidades do mundo. Mas os detalhes da tradição e da antiguidade vão muito além das edificações mais famosas, das que atraem o olhar estrangeiro de longe, por exuberantes e majestosas que costumam ser. Em Madrid, há também pequenos e aconchegantes lugares que datam de cento e cinquenta anos atrás – e que, com as mesmas cordas de antes, sustentam a produção e a venda de calçados, e tentam sobreviver a mais uma das crises que abalam a Europa. (mais…)

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PEC 37: Legalidade ou impunidade?

Debate sobre se o Ministério Público deve ter poderes investigatório suscita teorias de um possível conta-ataque de parlamentares denunciados pelo órgão. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Marcelo Pellegrini, em Carta Capital

Para os delegados, é a PEC da Legalidade. Para os promotores, a PEC da Impunidade. A forma como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 37/2011) tem sido tratada fora do Congresso dá o tom do embate entre as policias civis e federal, encabeçados pela Adepol (Associação dos delegados de Polícia), e os integrantes do Ministério Público. O receio destes é justificado: o projeto, de autoria do deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), pretende retirar os poderes de investigação de promotores e procuradores da República. Por causa da proposta, têm circulado pelo Congresso cartilhas sobre as atribuições constitucionais da Polícia e do MP. Ao mesmo tempo, palestras dentro e fora das categorias interessadas são organizadas pelo País.

De acordo com a Constituição, os únicos órgãos com permissão para tocar as investigações criminais são a Polícia Civil e Federal. No entanto, a exigência do Ministério Público se apoia em um tratado internacional do qual o Brasil é signatário e assegura seus direitos de investigação. Em uma carta assinada por diversas entidades ligadas ao MP defende-se que “sendo o Brasil subscritor do Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional, fez opção no plano internacional por um modelo de Ministério Público investigativo, sendo impensável que no plano interno seja (…) impedido de investigar”.

De acordo com a carta, a PEC significaria, se aprovada, um desrespeito a princípios do direito internacional e isolamento brasileiro em relação aos demais 120 países subscritores do estatuto. (mais…)

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