Boaventura: “Não há escolhas ideais”

Sociólogo constata hesitações dos socialistas e disseca sectarismo dos dogmáticos, nas eleições portuguesas deste domingo. Ainda assim, recomenda: “transformações maiores virão; enquanto isso, votem à esquerda”…

Por Boaventura de Sousa Santos – Outras Palavras

Uma amiga querida, espanhola, disse-me há dias que lhe apetecia escrever uma crônica intitulada: “Votem à esquerda e deixem-se de parvoíces”. Com esta frase queria ela expressar a ideia de que, apesar de não haver escolhas ideais para votar à esquerda, o mais importante de tudo é mandar embora este governo e tudo o que ele significou para o país. Os danos mais evidentes aí estão: o país empobreceu, a classe média foi arrasada, muitos dos melhores jovens emigraram, a ciência, a saúde e a educação foram decapitadas, tudo isto para diminuir uma dívida que afinal aumentou e para relançar o crescimento econômico que afinal não surgiu e se surgir será um potenciador de desigualdades. E, para além de tudo, a corrupção. Exceptuando o Tribunal Constitucional, o sistema judicial português, além de conservador, é timorato, não sendo capaz de enfrentar políticos enquanto estão no governo. Esta é talvez uma das razões por que os dois líderes do governo queiram tanto ganhar as eleições. Qualquer cidadão minimamente atento não deixará de considerar um escândalo que, no caso dos submarinos, os alemães que corromperam os portugueses tenham sido julgados e punidos enquanto os portugueses  corrompidos por eles continuem a exercer funções públicas. (mais…)

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Mészáros: A disputa pelo Estado

No contexto do lançamento de seu novo livro, A montanha que devemos conquistar: reflexões acerca do Estado, o filósofo marxista húngaro István Mészáros concedeu uma longa entrevista a Leonardo Cazes para o jornal O Globo, em que discutia alguns aspectos centrais da obra, como sua concepção de Estado, de democracia e da crise estrutural do capital, à luz de alguns dos protestos e mobilizações políticas que vêm se alastrando mundo afora. O resultado foi publicado parcialmente em fevereiro deste ano na matéria “Filósofo István Mészáros analisa ascenção de novos partidos na Europa como Syriza e Podemos. O material completo, contudo, supera em mais de três vezes o espaço disponibilizado pelo jornal. A pedido do autor, o Blog da Boitempo publica agora a versão integral da entrevista, enviada a nós diretamente pelo jornalista e revisada pelo tradutor Nélio Schneider. Também a pedido de Mészáros, a entrevista deve se somar ao apêndice das próximas edições ampliadas de A montanha que devemos conquistar: reflexões acerca do Estado. Confira aqui a versão em inglês da entrevista, e abaixo a versão em português: (mais…)

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