Os verdadeiros responsáveis pelo atentado do Riocentro. Entrevista com Jair Krischke

“Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade”, constata o historiador.

Unisinos/Adital – O documento que comprova a prisão do deputado federal e engenheiro Rubens Paiva e o envolvimento do exército com o seu desaparecimento durante a ditadura militar demonstram que a ação do Riocentro “foi planejada e levada a efeito pelo Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e tinha uma atuação duríssima, porque queriam que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente”, diz Jair Krischke à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.

Para ele, o documento encontrado nos arquivos do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias permite rever a história e confirmar que os militares organizaram um atentado “para adiar a abertura democrática no momento, porque os ‘comunistas subversivos continuavam ativos’”, ironiza.

Krischke prestou seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade na última terça-feira, 27-11-2011, denunciando a Operação Condor no Brasil e sugerindo a recuperação de arquivos que estão sobre o domínio do Comando Militar do Sul. “Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil”, conclui. (mais…)

Ler Mais

“Racismo não se supera apenas com a educação”

O texto abaixo é produto da minha exposição no Seminário “Negro Plural”, organizado pelo Instituto Luiz Gama e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) em 29 de novembro, no SESC/Vila Mariana. O tema da mesa era racismo e educação com foco na lei 10639 e as cotas raciais nas universidades.

Dennis Oliveira*

Há uma tendência forte no movimento anti-racista de considerar que a superação do racismo se dá pela educação. Não é a toa que duas bandeiras fortes do movimento atual referem-se á educação: a Lei 10639 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação ao instituir a temática da história da África e da cultura afrobrasileira nos conteúdos curriculares do ensino básico e a implementação das cotas raciais nos processos seletivos das universidades públicas.

Eu procuro entender o problema do racismo pelo viés do marxismo. Uma das ideias mais interessantes do pensamento marxista é que os homens estabelecem relações concretas uns com os outros com base na produção material. O racismo no Brasil origina-se do fato do capitalismo por aqui ter se construído com base na acumulação primitiva de riquezas obtida pelo modo de produção chamado pelo pensador Jacob Gorender, de escravismo colonial. O “escravismo colonial” foi muito bem conceituado por Gorender – ele sustentou o mercantilismo na Europa durante muito tempo, possibilitou em certo momento, recursos para inversão em modos de produção mais avançados e, após a proibição do tráfico de escravos em 1850 (lei Eusébio de Queiroz), os recursos que eram destinados ao tráfico foram direcionados para investimentos em sistemas produtivos, possibilitando aí, a transição negociada do escravismo colonial para o capitalismo.

Reforço esta ideia da “transição” – não houve ruptura com a ordem anterior e sim uma transição. A classe dominante brasileira é descendente dos escravocratas. Por isto, elementos construídos nas relações sociais do escravismo se transfiguram para o capitalismo. A “tolerância opressiva” de que fala Darcy Ribeiro – tolerar o outro para poder oprimi-lo – serviu como mecanismo legitimador da escravização e, atualmente, para a superexploração da mão de obra assalariada. Negros são tolerados desde que em seu “devido lugar”. (mais…)

Ler Mais