Na visão do senador Cristovam Buarque, presidente da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas, o que não pode deixar de ser tocado na Rio+20 “é justamente o que, lamentavelmente, deixará de ser tocado”. Ele explica, na entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, que a Conferência a ser realizada no próximo ano no Rio de Janeiro é importante para a ONU, mas não é prioridade “porque, com a crise atual, ela tem que se preocupar com o Irã – se vai fazer bomba atômica ou não –, tem que se preocupar com Israel e Palestina, tem que se preocupar com a Europa, em função da crise que está vivendo, além de se preocupar com os desastres naturais da seca e com a fome em tantos países. Assim, a ONU termina deixando de lado tudo o que tem a ver com o longo prazo. A Organização das Nações Unidas fica muito prisioneira no imediato, nos problemas de hoje e não tem tempo de pensar nos problemas do futuro”. Para o senador, “o melhor caminho para erradicar a pobreza chama-se educação e ela depende menos de crescimento econômico do que do bom uso do dinheiro que já temos. O Brasil já tem renda suficiente para poder ter uma boa educação para todos”. Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que esperar da Rio+20? O senhor ainda acha que ela corre o risco de ser um fracasso?
Cristovam Buarque – Ela corre o risco de ser um fracasso, sim, por duas razões: caso não compareçam aqui os principais chefes de estado e de governo (é preciso fazer com que eles venham); e, segundo, se o documento que sair não for satisfatório – para isso não acontecer é preciso que ele traga esperança nova para o mundo inteiro. Mas eu ainda espero que isso seja superado, que se consiga que todos os chefes de estado venham e que, no final, chegue-se a um documento que passe para o mundo inteiro a clareza do risco que corremos e da esperança que podemos ter mudando o rumo seguido nos últimos anos. Da Rio+20, além disso, eu espero que a sociedade civil, os movimentos sociais, as ONGs e todos que vão participar do encontro paralelo, terminem os debates com um documento pronto. Não importa o que for feito pelos chefes de estado. Façamos o nosso documento. E espero que se crie lá o que eu tenho chamado de “tribunal” para julgar os crimes do desenvolvimento, para manifestar a posição de grandes personalidades mundiais sobre os projetos que a economia vem fazendo. (mais…)