Em BH a trabalho, índio pataxó lamenta Copa e preconceito

Indígena lamenta discriminação diária
Indígena lamenta discriminação diária

Terra – Uma cena na tarde deste sábado chamou a atenção: em uma área nobre de Belo Horizonte, na região da Savassi, enquanto vários turistas se divertiam e acompanhavam a partida entre Uruguai e Inglaterra, um rapaz aparentemente jovem, completamente vestido como índio, caminhava com passos firmes em uma direção. Em uma rápida aproximação e conversa com o Terra, ele falou sobre os problemas que vive com a Copa do Mundo em Belo Horizonte e o preconceito que precisa enfrentar todos os dias.

Rayocoan é um índio pataxó e está em Belo Horizonte há poucas semanas. Ele chegou à cidade para vender seus artesanatos com sua esposa em busca de conseguir recursos e levar para sua aldeia, na Bahia, onde outras famílias dependem do trabalho dele para se sustentar. Caminhar por Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, segundo ele, é mais fácil para conseguir dinheiro, pois em terras baianas o excesso de índios atrapalha o negócio.

Sair de perto de outros indígenas, entretanto, é um desafio para Rayocoan. De acordo com o rapaz, o preconceito nas grandes cidades existe, principalmente em Belo Horizonte. Ele lamenta a falta de capacidade das pessoas para receber um índio.

“São problemas nos ônibus, a gente tem que carregar nosso carrinho de artesanato, eles não aceitam que a gente ande sem camisa no ônibus, mas fala que a nossa mulher pode andar nua. A gente não aceita isso, tem gente que ataca. O cacique manda vestir as mulheres e os homens, para chamar a atenção, o cacique pede pra gente andar com a nossa roupa assim a gente vende mais artesanato, leva mais dinheiro para aldeia. Aqui a gente passa por discriminação. No Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, nunca passei por isso, mas aqui em Belo Horizonte é ruim, a gente por isso”, lamentou.

Ele ainda criticou o preconceito de alguns moradores de Belo Horizonte – que as vezes não respeitam. “O público que não estudou discrimina, mas a gente não reconhece como inimigo, eles não fazem como maldade, é porque com falta de conhecimento, sem estudo, raramente vê um indígena”, observou apesar de elogiar os turistas. “É incrível como somos bem tratados por pessoas de fora. Eles chegam, pedem pra tirar fotos, compram às vezes, mas são educados”, disse.

Belo Horizonte está tomada por turistas. Para a Copa do Mundo, inclusive por ter três seleções hospedadas na capital e região metropolitana, vários torcedores de outros países estão em Minas Gerais. Com muito turismo, o comércio fica aquecido. A esperança de levar recursos para a aldeia era grande, mas Rayocoan afirma que o momento das vendas é fraco e ele já pensa em voltar.

“A Copa está devagar para trabalhar. A gente já está pensando em voltar para aldeia para buscar fazer mais artesanato, antes vivíamos da caça, agora não pode. Preservação. Esperava muito mais da Copa, todo mundo esperava mais, mas é muita quebradeira, muita coisa ruim. Esperávamos também o reconhecimento, somos pouco reconhecidos. Somos os primeiros do Brasil. A gente que descobriu o Brasil”, completou.

Aparentemente triste, Rayocoan confirmou a insatisfação momentânea, disse que não tinha comido nada durante o dia e buscaria um lanche para ele e a esposa quando a reportagem do Terra o abordou. Na luta para conseguir seu objetivo em Belo Horizonte, o jovem disse que espera por melhoras no Brasil.

“Espero que o Brasil melhore, pelo jeito não vai ganhar, vai perder a Copa, as cidades terão mais problemas, estamos com medo de não conseguir levar dinheiro para a nossa aldeia”, finalizou ele que mesmo com fome ainda teve paciência suficiente para tirar fotos com curiosos que estavam no local.

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