Estupro: uma violência que a cultura indígena desconhecia e custa aceitar

Cacique Tukano justifica a dificuldade do noivo da índia estuprada em aceitar o caso

Caio Lima*

O companheiro da indígena anos estuprada na madrugada do último domingo (23), no colégio Pedro II, em São Cristóvão, ainda não consegue entender e aceitar o crime que vitimou sua provável futura esposa. De acordo com o cacique Tukano, da Aldeia Maracanã, onde o casal vive, os motivos para a não compreensão são claros: não existe a violência do estupro nos costumes indígenas.

“Ele, de certa forma, é uma pessoa inexperiente em relação aos crimes ocorridos em cidades grandes, com grande violência. O estupro não ocorre nos nossos costumes, então para ele é difícil discernir o sexo consentido e o forçado. É um grande homem, batalhador, com temperamento forte, mas com boas intenções. Os sentimentos estão abalados, ele ainda não aceitou, fica se perguntando se há outro culpado, se realmente ocorreu o crime”, declarou o cacique.

A dificuldade do índio entender a violência contra a sua companheira, inclusive desconfiando que o sexo possa ter sido consentido, está fazendo com que a índia reveja a decisão de se casarem, conforme ela admitiu ao Jornal do Brasil.  A cerimônia estava marcada para o dia 8 de janeiro. No desabafo que fez, no domingo (30), ela se disse com raiva dos homens.

Mesmo não estando acostumada a conviver com a violência dos brancos, como o estupro, a  comunidade indígena está decidida a recorrer a hábitos e regras da sociedade “dita civilizada” para cobrar na Justiça uma indenização pela violência cometida à índia. Os indígenas estão preparando um processo contra a empresa Confederal Rio Vigilância, responsável pela segurança do Pedro II e empregadora do vigilante estuprador, cuja prisão preventiva foi decretada pelo juiz Luiz Eduardo Cavalcanti Canabarro, da 17ª Vara Criminal.

De acordo com André de Paula, advogado do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e que assessora a comunidade indígena, o processo de indenização será baseado nos crimes de lesão corporal, tentativa de homicídio, estupro de vulnerável e ameaça de morte.

“Vamos entrar com uma ação na Justiça Cível, além do processo Criminal já aberto. Quando acabar o recesso do judiciário já vamos (ele e outros advogados que acompanharão o caso) entrar com a ação na justiça”, prometeu o advogado.

Os advogados, assim como disse ontem ao JB o diretor do Sindicato dos Servidores do Pedro II (Sindiscop), Alexandre Samis, acreditam que a empresa deve ser responsabilizada, pois é ela quem emprega o estuprador.

*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil

http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/12/31/estupro-uma-violencia-que-a-cultura-indigena-desconhecia-e-custa-aceitar/

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