Racismo, bullying e outras formas de intolerância nas redes

Estudo capturou mais de 38 mil interações relacionadas a marcas, empresas, personalidades e indivíduos comuns atribuídas a palavras que demonstram o desrespeito praticado por usuários das redes.

No período de 2 a 6 de abril, a MITI Inteligência realizou um estudo inédito para avaliar como a internet se tornou palco de excessos e intolerância na comunicação. No período de cinco dias, foram capturadas mais de 38 mil interações contendo palavras de baixo calão relacionadas a empresas, marcas, personalidade e pessoas comuns, atribuindo inclusive nomes e referências.

“Pessoas comuns abrem seus perfis nos canais de relacionamento, criam identidades virtuais e expõem opiniões e experiências de forma aberta e muitas vezes intempestiva. Os comentários na rede estão cada vez mais inflamados e os usuários não se intimidam ao se referir a empresas, personalidades e até pessoas de seu relacionamento utilizando os mais diversos termos pejorativos”, comenta Elizangela Grigoletti, gerente de inteligência e marketing da MITI Inteligência.

Nesse cenário, fica cada vez mais importante a discussão sobre quais são os limites entre a liberdade de expressão de um indivíduo e o direito dos outros de serem expostos na rede. Por conta da facilidade de opinar, os casos de difamação e bullying virtual se tornam cada vez mais frequentes. Hoje no Brasil existem pelo menos onze delegacias especializadas em crimes virtuais, que registram dados crescentes de denúncias e reclamações, abrindo discussão para uma outra preocupação – o reflexo destes crimes virtuais nos ambientes reais. (mais…)

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Homofobia é Racismo

Por Alexey Dodsworth

Macaco, preto fedido, chimpanzé, tição, urubu. Você dificilmente ouvirá estes termos desprezíveis serem ditos nos dias de hoje, e quem os disser tem plena consciência de que poderá ser processado e eventualmente encarcerado. Racismo é crime. Mas não pense você que as coisas foram sempre assim. Presenciei muito deste tipo de xingamento quando era um adolescente nos anos 80, em Salvador. Em Salvador, cidade de maioria negra! Perdi a conta de quantas vezes vi pessoas negras serem alvo deste tipo de impropério. Já tive colegas que mudaram de escola por não suportarem as ofensas envolvendo a cor de suas peles. Por conta da criminalização do racismo em 1988, paulatinamente a sociedade incorporou o fato de que determinadas expressões são intoleráveis. E eu não vejo ninguém relativizar o racismo, defendendo a “liberdade de expressão” para quem queira usar estes termos asquerosos. É inegociável. Falou, vai preso. Nenhuma liberdade pode se pretender absoluta, nem a de expressão. Ou, melhor dizendo: somos livres para fazer o que quisermos e dizer o que quisermos, mas para tudo há um preço.

Se estes termos pejorativos dirigidos contra negros nos são – agora! – intoleráveis, por que toleramos bicha, viado, baitola, boiola, frutinha? Ora, dirão alguns, Bolsonaro não é racista, ele se confundiu com a pergunta, pensou que Preta Gil estava a falar de gays. Vou contar um segredinho: homofobia é racismo. Isso mesmo. “Racismo” significa sustentar a suposta inferioridade ou superioridade de um determinado agrupamento de pessoas, agrupamento este definido por alguma característica distintiva comum. Pode ser cor de pele, mas não necessariamente. E se digo isso, não é por mera retórica. Há precedentes, há jurisprudência no Brasil sobre isso. Pessoas já foram processadas por demitir funcionários que se revelaram gays, e o processo se amparou na lei antiracismo. (mais…)

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