Cultura com visibilidade internacional

Com programação recheada de artistas nacionais e estrangeiros, FAN visa a internacionalização de sua cultura

Lucas Simões – O Tempo

Com uma programação de cinco dias, o 8º Festival de Arte Negra (FAN) reúne um apanhado de atividades – quase todas gratuitas – refletindo sobre influências culturais da matriz africana. Mas, além de dar visibilidade a artistas mineiros menos difundidos no cenário nacional, a curadoria artística do FAN também investe em um elo prático com a África, internacionalizando cada vez mais o festival.

“A programação sempre é pensada para haver uma ligação direta entre Brasil e África. É muito importante dialogar com o berço, com a matriz que nos ilumina e nos alimenta com essas culturas que utilizamos na diáspora”, diz a curadora do FAN, Rosália Diogo.

Nessa perspectiva, os Encontros Literários, por exemplo, terão um foco específico na literatura negra feminina. Entre as convidadas, haverá a presença da escritora Paulina Chiziane, a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, “Balada de Amor ao Vento”, de 1990. Ao lado dela estará a socióloga e escritora Patrícia Gomes, de Guiné Bissau, que tem uma obra importante debruçada sobre os direitos das mulheres negras. Nos debates, ela apresenta o mais recente livro, “O Que É Feminismo?”, publicado pela Escolar Editora neste ano. Junto às estrangeiras, as autoras brasileiras Conceição Evaristo, Lívia Natal e Cristiane Sobral engrossam a discussão sobre a resistência de mulheres negras ao longo dos séculos.

Outra novidade do festival é o Cinema FAN, reunindo uma mostra de filmes africanos no Centro de Referencia da Moda. Ao todo, serão exibidas 12 películas gravadas em <CW1>países como Senegal, Congo, Angola, Moçambique e Burquina Fasso por meio de uma parceria com a Cinemateca Francesa – que assina boa parte das produções selecionadas e cedeu os filmes para exibição no FAN. “O cinema e a literatura são duas das artes com grande potencial na África, mas pouca gente tem acesso a isso. O FAN é uma maneira de estreitar esse laço, trazer uma raiz que é tão brasileira até nós. É algo que a música hoje atinge bem, mas outras artes ainda não”, justifica Rosália.

MÚSICA. Entre os vários shows e atividades musicais presentes no FAN, destaque para a oficina de percussão do grupo baiano Ylê Ayiê, a ser ministrada no Necup, neste sábado, a partir das 16h. No mesmo dia, às 9h, o Sesc Palladium recebe uma oficina de dança afro com Nildinha Fonseca, também de Salvador.

Para os mais agitados, o FAN 2015 ainda preparou um mega show com a estrela Gaby Amarantos, amanhã, a partir das 20h, no Parque Municipal. A cantora paraense vai dividir o palco com a mineira Carla Gomes e o rapper paulista Rico Dalasam, após a apresentação do MC mineiro Douglas Din, campeão do Duelo de MCs em 2013.

Para Gaby Amarantos, a chance de fazer um show em um festival politizado tem um peso maior do que a média de dez grandes shows que ela faz por mês. “É claro que a militância existe em qualquer show que eu faça – porque o racismo existe em qualquer show também. Mas é outra coisa você está cantando em um show que foi feito para ressaltar a arte negra, onde tem branco, índio, preto, rico e pobre ali pela cultura negra. Isso valoriza uma raiz”, diz.

Foto: Convidada. Paulina Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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