Greve dos professores estaduais continua

Elaine Tavares  – Palavras Insurgentes

A assembleia marcada para quinta-feira tinha tudo para ser tensa, e foi. Muito tempo de greve, o desgaste, a desolação pelas reuniões improdutivas com o governo. Os professores precisariam avaliar a última resposta do governo sobre a pauta da greve. O documento apresentado pela equipe de Raimundo Colombo não pode ser chamado de uma proposta de negociação. Da pauta mesmo, nenhum item. A indicação era de anistia pelos dias parados e a revisão da redação do tópico que fala das progressões. Nada sobre o pagamento de 13,01% do Piso na carreira, retroativo a janeiro, nada sobre a não incorporação da regência de classe, nada sobre a não contratação de ACTs como horistas, nada sobre quase tudo.

Negociação é um processo de conversa na qual os dois lados, geralmente, tem de ceder em alguma coisa. Mas, no caso do processo de greve dos professores catarinenses, apenas os trabalhadores estão sendo chamados “à razão”. Ora, o governo não cede?

A tensão na assembleia ocorre justamente por isso. Como o tempo está passando e todo mundo fica angustiado, a tendência é cair na conversa do “vamos pegar o der”, como se a greve tivesse sido deflagrada para não ter os dias descontados.  Na mídia comercial já começam a vociferar os arautos do poder, falando em intransigência dos professores, dizendo que “não dá para ganhar tudo”, que é preciso pensar nas criancinhas.

Seria bom ver a mesma atitude desses jornalistas quanto à atitude governamental. Quem não está pensando nas “criancinhas” é o Raimundo Colombo e sua equipe. Eles estão arrastando a greve, criando uma atmosfera na qual a vítima vira vilão. Ou seja, dizem que são os professores os responsáveis pelo fato de os estudantes não terem aula. Quando, na verdade, é o contrário. E não venha o governo dizer que não tem dinheiro. Santa Catarina é, de fato, um dos estados mais endividados da união. Segundo relatório da Secretaria da Fazenda Estadual o passivo acumulado soma R$ 25.094.043.790,26. Ou seja, vinte e cinco bilhões de reais.

Mas, o que a sociedade precisa saber é que se a dívida é essa, não é por conta dos salários dos trabalhadores, muito menos por investimentos na saúde ou educação. A dívida cresce de forma exponencial por conta do pagamento de juros sobre juros de empréstimos que, muitas vezes, não serviram para melhorar a vida dos catarinenses. Ao contrário, foram sendo contratados para pagar dívidas velhas. Se olharmos o gráfico da dívida veremos que o que se utiliza de recursos para obrigações trabalhistas é ínfimo. Assim que pagar melhor aos professores é uma decisão política.

DSC_0327[1]Falam ainda em queda de braço de tendências partidárias ou de grupos divergentes no mundo sindical. Ora, isso é coisa muito natural de acontecer num movimento de greve. Uma categoria reunida em um sindicato não é um bloco homogêneo. Ainda que lutem por uma pauta corporativa, também debatem pautas da política educacional que se conflitam. Grupos organizados dentro do movimento sindical têm opiniões divergentes sobre educação, sobre método de luta, sobre o lá-na-frente que se quer chegar. E é natural que isso se explicite num momento como a greve, quando todas essas temáticas vêm à tona. Então, as disputas políticas e partidárias são saudáveis e fazem parte da grande política. É certo que elas não podem passar por cima das decisões da categoria sobre a luta, mas elas têm todo o direito de se colocarem à discussão. Então, esse também é um argumento redutor, que busca dividir e desmobilizar. Não deve ser levado em conta.

A greve continua e não é por intransigência dos trabalhadores. É bom analisar a realidade com um olhar abrangente e generoso, identificando com clareza as forças em disputa e tomando partido. Estar com os professores é se posicionar a favor de uma educação de qualidade. Porque o ensino está absolutamente ligado com as condições nas quais ele é oferecido. Sem professor bem pago, sem estruturas seguras e bonitas, o ensino será falho. E, quem perde com isso, somos todos nós.  Porque como diz o professor de Imbituba, Marcelo Francisco Basso, a educação precisa de amor, mas também de gente que sabe que sem luta não se avança.

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