Lutas contínuas concretizam mudanças sociais e raciais – por Kabengele Munanga

Texto que compõe o volume 6 da coleção “2003-2010 O Brasil em transformação” da Editora Fundação Perseu Abramo, organizado por Matilde Ribeiro, edição no prelo.

Por Prof. Kabengele Munanga

Vivo há 35 anos no Brasil. Saí da África, da República Democrática do Congo, em 1975,para fazer o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), devido às dificuldades políticas com a ditadura militar que durou 33 anos, com o apoio do imperialismo ocidental. Como minha família estava em oposição a esse regime, tive de me auto-exilar preventivamente.

Construí minha carreira acadêmica na USP, estudando e ensinando principalmente asrelações raciais e interétnicas, o que muito me aproximou e me identificou com a população negra brasileira. Não é fácil trabalhar numa área em que há muita discriminação, considerado como estrangeiro que se mete nas questões políticas em outro país. Alguns dizem que me envolvo até mais do que os próprios negros brasileiros com a situação discriminatória do país. É uma escolha política da qual não abro mão, apesar da discriminação. (mais…)

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Sou negro!

Que viva Zumbi e que viva a idéia poderosa da afirmação de Guerreiro Ramos: Sou negro, sou povo brasileiro!

Elaine Tavares

O cinema já imortalizou esta cena. Zumbi dos Palmares, resistindo até o último momento, no alto da Serra da Barriga, comandando mais de 50 mil almas, preferindo a morte digna que a rendição. Não sem razão que esta passou a ser a principal figura do panteão de heróis do povo negro. E haveria de ter muitos e tantos, sem nome ou rosto, que enfrentaram a escravidão nestas terras tropicais, trazidos, como bichos, nos navios negreiros ingleses, sustentando a economia daquele país que viria a ser um império.

Pois foi com os braços de homens e mulheres negros que os lordes garantiram a revolução industrial e a consolidação do sistema capitalista. Só o braço escravo, já bem contou Eric Williams, daria conta da colonização baseada na monocultura extensiva. Mas essa gente valente, que foi sequestrada de suas terras, nunca se rendeu. A liberdade era seu horizonte e tão logo escapavam das correntes criavam quilombos, comunidades livres, solidárias, auto-gestionadas. A maior delas: Palmares. E é em honra a esse povo, com Zubi à frente, que no dia 20 de novembro, se celebra o Dia da Consciência Negra. (mais…)

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Abdias do Nascimento: “O racismo fica escancarado ao olhar mais superficial”

Ao longo de seus 96 anos, Abdias esteve presente e participou de inúmeras passagens importantes das lutas negras do século 20, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na África. Sua vida é ela mesma a própria história da luta negra

Joana Moncau e Spensy Pimentel, de São Paulo (SP)

A luta pelo reconhecimento dos direitos, a dignidade e a autonomia da população negra tem heróis de muitos países, entre África e Américas. É uma luta tão antiga quanto a diáspora negra produzida pelo vergonhoso comércio de africanos que vigorou no Atlântico por quase quatro séculos. É por se tratar de uma luta de tantos povos, lugares, tempos e pessoas que impressiona tanto conhecer a vida do ativista brasileiro Abdias do Nascimento.

Ao longo de seus 96 anos, Abdias esteve presente em e participou de inúmeras passagens importantes das lutas negras do século 20, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na África. Nasceu em 1914, numa época em que ainda eram extremamente recentes as lembranças da escravidão no país, abolida em 1888. Nos anos 1930, engajou-se numa iniciativa pioneira, a Frente Negra Brasileira, na luta contra a segregação racial nos estabelecimentos comerciais de São Paulo. Por sua militância política, foi preso pela ditadura Vargas. (mais…)

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Diretor da PUC reconhece racismo em Universidade

Estudante de direito foi vítima de racismo através de e-mails

Jorge Américo, de São Paulo, da Radioagência NP

A estudante do último ano de direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Meire Rose Morais sofreu ofensas com conteúdo racista de uma colega de sala. De acordo com ela, as agressões se deram em uma lista de e-mails.

Meire relata que é comum os bolsistas negros do Prouni serem tratados de maneira preconceituosa. “Ela manda os e-mails com vários contextos que discriminam a questão racial: ‘esse creme que você usa para emplastar seu cabelo’. Ela faz uma ofensa pelos elementos raciais que eu possuo. Eu tenho o cabelo crespo, cacheado e para ele não armar muito eu passo bastante creme.”

Meire é solteira e mãe de três filhos. Dentro de um mês se formará aos 46 anos de idade. Ela conta que foram feitas referências até mesmo a um problema no pé que a obriga a usar sandálias. (mais…)

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As culturas populares e tradicionais no futuro governo Dilma

Marcelo Manzatti

Neste artigo, pretendo analisar os avanços obtidos durante o governo Lula e os desafios colocados para a gestão Dilma em relação às Culturas Tradicionais, às Culturas Populares, aos Povos e Comunidades Tradicionais, ao Folclore, dentre outras denominações possíveis, dependendo do interlocutor que se apresente para o debate. Por tratar-se de um segmento com bases sociais bastante amplas (habitantes das periferias urbanas, povos indígenas, trabalhadores rurais, afrodescendentes, dentre outros), responsável por uma grande diversidade de expressões culturais, uma análise mais complexa ainda precisa ser encaminhada, de preferência, colaborativamente, a partir deste ponta pé inicial.

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Ministros celebram Dia da Consciência Negra

Suzana Varjão

Realizada no Dia Nacional da Consciência Negra, a XXXI Reunião de Ministros da Cultura do Mercosul deu passos significativos na direção do fortalecimento e integração da cultura afrodescendente na América do Sul. Além da celebração da data, as autoridades reunidas no Rio de Janeiro aprovaram a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para conduzir as temáticas indígena e afrodescendente no âmbito do Mercosul e apoiar a realização do III Encontro Afro-latino e Caribenho.

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Grande festa em Serra da Barriga

Religiosos e devotos sobem a Serra da Barriga para celebrar o 20 de novembro

Por Joceline Gomes

Pessoas sobem a pé, sob os 33 graus de União dos Palmares, a Serra da Barriga. Lá no alto, acontece desde cedo uma das maiores celebrações à memória de Zumbi dos Palmares. Dança, capoeira, manifestações de religiosos de matriz africana e muita liberdade. É 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e o Parque Memorial Quilombo dos Palmares está em festa.

O dia começou com um cortejo das Mulheres do Axé, que começou na base da Serra e foi até o platô onde se encontra o Parque. Os participantes subiram cantando em homenagem aos orixás, e, principalmente, a Zumbi. Enquanto religiosos e visitantes seguiam o íngreme trecho a pé, como fazem tradicionalmente todo ano, carros, motos e vans levantavam poeira à frente e atrás da multidão. Todos queriam pisar o solo sagrado de onde Zumbi dos Palmares coordenou a resistência e a luta contra a escravidão. O percurso é longo, sobretudo se feito a pé, mas a paisagem e a memória compensam o sacrifício.
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Mensagem dos Bispos de NE II depois da visita às obras da Transposição

Nos dias 09 e 10 de novembro deste ano de 2010 nós bispos dos Regional NE II visitamos os canteiros de obras dos eixos Leste e Norte da transposição de águas do Rio São Francisco e encontramos os líderes de algumas das comunidades atingidas pelas obras.

Nos moveu a visitar esta obra em primeiro lugar a nossa condição de pastores, interessados em conhecer de perto  um empreendimento de grande magnitude, que já está mudando o rosto do nosso Nordeste e que poderá incidir profundamente na vida de milhões de nossos irmão e irmãs nordestinos. Também foi nosso desejo ouvir a voz do povo das comunidades pelas quais os canais estão passando, para sentir de viva voz como eles vivem este tempo de mudança, preocupando-nos especialmente com os mais pobres e desamparados, para que não sejam esquecidos ou atropelados por este grandioso projeto.

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A anta que virou elefante num domingo espetacular

José Ribamar Bessa Freire – 21/11/2010 – Diário do Amazonas

A segunda-feira da índia Rosi Waikhon na periferia de Manaus foi um dia de cão. Escapou, por pouco, de ser apedrejada. Ao sair de casa, várias pessoas lhe atiraram na cara frases do tipo: “Ei, índia, você não é gente, índio mata o próprio filho, vocês deviam morrer”. Minha amiga há muito tempo, ela me confidenciou: “Meu dia virou um terror, em todos esses anos, nunca tinha ouvido palavras tão pesadas e racistas”.

Quem humilhou Rosi estava indignado, porque no dia anterior havia presenciado o ‘assassinato’ de crianças indígenas, cometido pelos próprios pais, que praticam o ‘infanticídio’, tudo isso exibido no programa Domingo Espetacular da TV Record. Felizmente, como nos filmes americanos, chega a cavalaria para salvar vidas ameaçadas por índios bárbaros. A missionária evangélica Márcia Suzuki, cavalgando a emissora do Edir Macedo – tololoc, tololoc – leva os bebês arrancados das garras dos ‘criminosos’ para a chácara da igreja neopentecostal. Enfim, salvos.

As pessoas viram trechos do vídeo ‘Hakani’ com o sepultamento de uma criança viva. A voz cavernosa de um narrador em off anuncia que se trata de prática generalizada: “A cada ano, centenas de crianças são enterradas vivas na Amazônia”. O xerife Henrique Afonso, deputado federal do Acre, quer prender os ‘bandidos’. Faz projeto de lei que criminaliza o ‘infanticídio indígena’, invoca a Declaração Universal dos Direitos Humanos e apela ao papa Bento XVI para que “intervenha contra o crime nefando”. (mais…)

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