As faces negras das mídias

Mesa de debates: Juliana Nunes (E), João Acaiabe, Jeferson De, João Rodrigo Mattos, Zulu Araújo, Newton Canitto, Joel Zito Araújo, Chica Xavier e Pola Ribeiro. Foto: Daiane Souza / Divulgação Palmares.
Por Joceline Gomes

Grandes personalidades da arte e da cultura brasileiras participaram da abertura do seminário “Qual é a face negra da mídia?”, que abriu a programação comemorativa do Dia Nacional da Cultura (05-11), no Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília. O debate, mediado pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, tocou em questões sociais polêmicas, motivando o público, que participou ativamente das atividades.

À mesa de abertura sentaram-se o roteirista e secretário de audiovisual do Ministério da Cultura, Newton Canitto; os cineastas Pola Ribeiro, João Rodrigo Mattos, Jeferson De e Joel Zito Araújo; o ator João Acaiabe e a coordenadora da Radioagência Nacional na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), jornalista Juliana Cézar Nunes. A presença ilustre da atriz Chica Xavier fez Zulu Araújo quebrar o protocolo e convidá-la a participar da mesa, devido à sua relevante participação no processo de construção da cidadania negra.

As discussões acaloradas contaram com perguntas e contribuições do público, em meio aos depoimentos dos convidados, que deveriam, com sua trajetória pessoal e profissional, responder à provocação do título do seminário: “Qual é a face negra da mídia?” Após o seminário, foi servido um típico almoço afro-brasileiro, seguido de filmes igualmente nacionais e de novos debates. Confira, abaixo, algumas opiniões dos participantes do seminário.

“É com a diversidade que apresentamos aqui na mesa deste seminário que precisamos militar e nos manifestar contra o racismo na mídia. Somente assim poderemos ter um país substantivamente democrático.” (Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares).

“Hoje, nessa mesa, e em outras ações culturais e educacionais de que participo, me sinto fazendo alguma coisa, plantando na terra que deveria ser de Zumbi” (Chica Xavier, atriz, agradecendo a participação na primeira fala do seminário).

“Não podemos ser como os europeus e americanos, que ´toleram´ a diversidade. Devemos preservar e valorizar essa diversidade, característica do nosso País”. (Newton Guimarães Cannito, secretário de audiovisual do Ministério da Cultura).

“A face negra da mídia é a mídia mais alternativa, produzida com esforço por grupos políticos e culturais diferenciados, que conseguem se posicionar com mais diversidade e verdade, falando ´eu sou assim, e assim eu me posiciono´ ” (Pola Ribeiro, cineasta e diretor da TVE Bahia).

“É um erro estratégico fazer essa separação na mídia: de roteiristas negros escrevendo sobre negros. É importante que negros trabalhem com brancos, que não sejam produções isoladas” (Joel Zito Araújo, cineasta e pesquisador).

“A face negra da mídia é a face de quem está por trás das câmeras: roteiristas, produtores, diretores, etc. Não vou falar para brancos pararem de produzir. Eu apenas quero ter o direito de produzir também e de ser visto” (Jéferson De, cineasta).

“A face negra da mídia tem dois lados: o positivo, da alta produção sobre a questão racial; e o negativo, do preconceito velado, da discriminação na grande mídia, que ainda é controlada por interesses pessoais e comerciais e não discutem elementos contra o racismo” (João Rodrigo Mattos, cineasta).

“Fiz participações em filmes de diretores negros, mas qual a oportunidade que esses diretores têm de fazer filmes? Não adianta só conversar com professores ou com pessoas engajadas. É uma atmosfera que precisa ser criada contra o racismo na mídia” (João Acaiabe, ator).

“Precisamos combater o racismo que existe nas redações dos jornais e revistas, que se reflete nas pautas e nas fotografias. O número de jornalistas negros e de fotografias de negros em contextos diferenciados é ínfimo […]. Precisamos exigir uma política de igualdade racial nas empresas de comunicação” (Juliana Cezar Nunes, coordenadora da Radioagência Nacional na Empresa Brasil de Comunicação – EBC).

http://www.palmares.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=3052

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